Tomás de Aquino: Questões Discutidas Sobre a Verdade Pergunta Sete: A verdade se predica, em Deus, da essência ou das pessoas?


Introdução

  Continuando o comentário destas perguntas pode ser dito acerca da última pergunta seguindo este esquema:

  *Tese

  *Contratese

  *Resposta a Questão Enunciada

  *Resposta aos argumentos da Tese.

  A pergunta foi esta: A verdade criada será imutável?

  Sobre aTese: PARECERIA QUE A VERDADE CRIADA É IMUTÁVEL

  Então neste caso a verdade é tratada como ideia, nesta tese. Mas ao longo da argumentação será enquadrada em conceito.

  Sobre a Contratese: CONTRATESE: PARECERIA QUE A VERDADE CRIADA NÃO É IMUTÁVEL.

  Neste sentido a ideia de verdade criada, diferente da Verdade Primeira, quando exposta ao teste de proposições em que o sujeito ou causas sejam alteradas demonstra que a verdade criada é mutável.

  Sobre a RESPOSTA A QUESTÃO ENUNCIADA.

  Enfim: a verdade é mutável em termos de forma, conhecimento subjetivo, mas é imutável em relação à Verdade Primeira.

  Sobre a RESPOSTA AOS ARGUMENTOS DA TESE.

  Resposta final:

  A verdade criada sempre será mutável, porque não é como a Verdade Primeira, já que a criada está sujeita aos fatores de tempo e demais que a tornam finita, diferente da Verdade Primeira que é eterna e imutável.

TESE: PARECERIA QUE, EM DEUS, A VERDADE SE PREDICA DAS PESSOAS.

  Tudo o que em Deus implica uma relação de princípio predica-se das pessoas. Ora, a verdade implica uma relação de princípio, conforme se depreende por Agostinho, o qual afirma, no livro Sobre a Verdadeira Religião, que a verdade divina é a semelhança suprema de princípio, sem qualquer dessemelhança, da qual se origina a falsidade. Logo, a verdade, em Deus, se predica das pessoas. (1)

  Além disso, assim como nada é semelhante a si próprio, da mesma forma nada é igual a si próprio. Ora, segundo Hilário, a semelhança, em Deus, implica a distinção de pessoas, pelo fato de nada ser semelhante a si mesmo. Portanto, o mesmo ocorre com a igualdade. Ora, a verdade é certa igualdade (conformidade entre a coisa e o intelecto). Logo, a verdade implica, em Deus, uma distinção segundo as pessoas. (II)

  Aqui Tomás de Aquino basicamente faz a comparação entre a verdade em Deus e a essência de Deus na doutrina cristã da Trindade onde Deus é uma essência única, e por outro lado são 3 pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, portanto a Verdade, assim como Deus, é única e derivada das Três Pessoas da Santíssima Trindade. Veja aqui: “a semelhança, em Deus, implica a distinção de pessoas”, ora esta distinção é o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

  Outra comparação que ele utiliza é esta: “assim como a palavra se predica das pessoas, o mesmo ocorre com a verdade.”(III) Ou seja, assim como a palavra só pode vir de pessoas, a verdade provém de pessoas e nesse caso a Verdade Primeira está em relação com Pai, Filho e Espírito Santo.

CONTRATESE: PARECERIA QUE, EM DEUS, A VERDADE NÃO SE PREDICA DAS PESSOAS, MAS DA ESSÊNCIA.

  Com efeito, no dizer de Agostinho, "a verdade das três pessoas é uma só”. Logo, a verdade se predica, em Deus, da essência, e não das pessoas.

  Se por um lado, é verdade que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo (três pessoas) essas mesmas são uma única essência, ou seja, são um único Deus e não três deuses.

  Portanto, também seria verdadeiro que a verdade em Deus se predica ou deriva não das três pessoas da Trindade, mas da essência única de Deus.

  Lembrando que o Escolasticismo não se preocupa em provar a existência de Deus através da Bíblia, mas de argumentos de escritores cristãos e da Filosofia.

RESPOSTA A QUESTÃO ENUNCIADA.

  Predicada de Deus, a verdade pode revestir duas acepções: uma própria, a outra como que metafórica.

  Predicada de Deus no sentido próprio, a verdade designa a concordância da inteligência divina com a coisa. Como, porém, a inteligência divina conhece primeiro a sua essência, sendo através dela que conhece todo o restante, depreende-se que a verdade, em Deus, significa primariamente a conformidade da sua inteligência (conhecimento) com a sua própria essência, e só derivadamente a conformidade da sua inteligência com a coisa criada.

  Metaforicamente, e em sentido análogo, fala-se da verdade em Deus, quando a compreendemos no sentido em que reside nas coisas criadas, caso em que falamos de verdade no sentido de que estas imitam o seu princípio originante, ou seja, a inteligência divina. Em consequência, semelhantemente a verdade em Deus se denomina, neste sentido, a imagem ou imitação do princípio originante, o que compete à Pessoa do Filho. Nesta acepção, a verdade se predica no sentido próprio da pessoa (e não da essência): no caso, do Filho. Assim se exprime Agostinho na obra Sobre a Verdadeira Religião.

  Nesta resposta é encontrado o seguinte: que a verdade sendo predicada (relacionada, derivada de Deus) no sentido próprio está ligada à inteligência de Deus, assim Deus conhece algo pela essência dele próprio e depois conhece as coisas criadas, portanto a verdade segue esse processo no sentido próprio: Primeiro Deus conhece a essência dele mesmo e depois das coisas criadas inclusive, por isso a verdade é a concordância de seu conhecimento de si mesmo e das coisas criadas.

  Já em sentido metafórico (comparativo) a verdade em Deus está residindo nas coisas criadas quando estas imitam a inteligência divina ( o conhecimento de Deus) .Exemplo: a verdade, o amor, a misericórdia e bondade que se originam de Deus e em certa medida existem no ser humano.

  Já a falsidade está ligada ao mal, que segundo Santo Agostinho, não possui existência própria, antes é a ausência do bem, e a falsidade por consequência é a ausência da verdade.

  E acerca do Filho ( conhecido como Jesus) é chamado na Bíblia de “imagem do Deus invisível” pelo apóstolo São Paulo. Portanto esta imagem é derivação do princípio da única essência de Deus.

  Logo, tudo é derivado da Verdade Primeira (Deus em Cristo).

RESPOSTA AOS ARGUMENTOS DA TESE.

  A igualdade, quando predicada de Deus, por vezes designa uma diferença entre as pessoas; assim é, por exemplo, quando dizemos que o Pai e o Filho são iguais. Entendida neste sentido, a concordância ou igualdade implica uma diferença real entre os dois termos da relação (II)

  Em outros casos, porém, os termos conformidade e igualdade não implicam nenhuma diferença real, mas apenas uma distinção racional. Assim, por exemplo, quando afirmamos que a sabedoria e a bondade de Deus se identificam. Por conseguinte, a concordância ou identidade não implica necessariamente uma diferença entre as pessoas. Ora, tal é a diferença expressa pelo termo verdade, quando a definimos como a conformidade concordância igualdade entre a inteligência cognoscente e a essência de Deus.

  Aqui nesta resposta precebe-se um prolongamento do que foi dito antes: sobre a verdade ser derivada da própria essência de Deus.

  A ideia de diferença, por outro lado, entre as pessoas da Trindade em relação a essência de Deus não existe de fato, portanto em relação a verdade divina toda ela tem sua proveniência da inteligência divina que começa na essência do próprio Deus e prossegue no relacionamento com as coisas criadas que são imitações do que provém das ações da essência de Deus.  Para Tomás de Aquino a Verdade nunca é um princípio criador, mas um princípio derivado.

IMPLICAÇÕES

  *SE A VERDADE VEM INTELIGÊNCIA DIVINA, PODE SER DITO QUE A MEDIDA QUE BUSCAMOS A VERDADE, TAMBÉM ESTAREMOS CRESCENDO EM INTELIGÊNCIA, OU SEJA, CRSCENDO EM CONHECIMENTO. ISSO É ÓTIMO.

  QUANDO BUSCAMOS A VERDADE ESTAMOS APRECIANDO AS DIFERENÇAS DAS PESSOAS, E VENDO NELAS A IMAGEM DE DEUS, E AINDA QUE ESTEJAM COM PROBLEMAS EM ESSÊNCIA AJUDAR PESSOAS, É BUSCAR MAIOR IDENTIFICAÇÃO COM A INTELIGÊNCIA DIVINA, ISTO É MUITO BOM.

  AMATE VERITATEM IN OMNI TEMPUS ET PACEM OMNIBUS PERSEQUATE.

  •Amai vós a verdade em todo o tempo, e segui vós a paz com todos.

Referências

  STO. TOMÁS E DANTE Vida e Obra, São Paulo: Nova Cultural, 1988.

  —BATISTA, William Memória da Ausência – os séculos de elaboração do discurso sobre o mistério, Rio de Janeiro: Letra Capital, 2011.

  —GEISLER, Norman & Paul D. Feinberg Introdução a Filosofia, uma perspectiva cristã, Tradução: Gordon Chown, São Paulo Vida Nova, 1983.

  —GILSON, Étienne Por que São Tomás Criticou Santo Agostinho?/ Avicena e o Ponto de Partida de Duns Scotus, tradução: Tiago José Risi Leme. São Paulo: Paulus, 2010.

  CARVALHO, Aristóteles em Nova Perspectiva, 2013, Vide Editorial.

 



 

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