Tomás de Aquino: Questões Discutidas Sobre a Verdade Pergunta 12: Existirá falsidade na inteligência?


Introdução

       Esta conclusão irá abordar:

       1- A vida de Tomás de Aquino (resumidamente)

       2- O método escolástico

       3- Resumo das 11 perguntas anteriores

1- A vida de Tomás de Aquino

       Tomás de Aquino (1225-1274) foi um frei católico, filósofo e teólogo italiano da Idade Média, da Ordem Dominicana. 

       Tomás de Aquino nasceu no castelo de Roccasecca, em Aquino, no reino da Sicília, no sul da Itália, no ano de 1225. Sua família, de origem nobre se destacou a serviço do imperador da Alemanha, Frederico II.

       Em 1245, resolveu ingressar na Universidade de Paris, um dos grandes centros de estudos teológicos da Idade Média. Depois de quatro anos, virou professor.

       Depois de sete anos lecionando e meditando em Paris, Tomás de Aquino começou a elaborar sua doutrina cristã, que mais tarde seria aceita pela Igreja e conhecida como “Tomismo”

       Inicialmente, Tomás de Aquino reviu a atitude da Igreja face à filosofia de Aristóteles, que era rejeitada, por ser pensador pagão assim como as demais dos pensadores gregos do período antes de Cristo.

       Depois dos estudos sobre a filosofia de Aristóteles, Tomás de Aquino chegou às suas conclusões:

       Resumo dos pensamentos de Tomás de Aquino:

       Primeira: A filosofia de Aristóteles não era necessariamente pagã pelo mero fato de ter o filósofo nascido antes de Cristo – afinal, os gregos, e principalmente Aristóteles, tinham também uma concepção de Deus.

       Segunda: A razão dada ao homem por Deus, não se choca com a fé, se bem utilizada, só pode conduzir à verdade.

       Terceira: A revelação divina orienta a razão e a complementa.

       Em 1274, em viagem para participar do II Concílio de Lyon, na França, cujo objetivo era remediar a cisão entre as igrejas grega e romana, Tomás de Aquino adoeceu gravemente. Tomás de Aquino faleceu em Fossanova, na Itália, no dia 7 de março de 1274.

2- O método escolástico

       Escolasticismo:  vem das escolas fundadas por Carlos Magno e mantidas pela Igreja no Ocidente onde se estudava teologia, retórica, gramática, música e filosofia. Scholasticus se referia ao professor das escolas, e mais tarde foi utilizado também para significar um modo de ensino instituído pela Igreja sob a proteção papal. Em função dessa proteção, os estudos filosóficos eram subsidiários da teologia. (BATISTA, 2011, pp.75,77)

       No ambiente universitário se desenvolveu o debate como método por excelência de ensino:

       A mecânica do debate consistia no seguinte: um problema é posto em forma de questão; em seguida são apresentados argumentos contra e a favor, geralmente de autoridade. Os argumentos negativos, isto é, contrários à determinação ou resposta final são apresentados em primeiro lugar. 

       O objetivo de se colocar os argumentos contrários em primeiro lugar é o de esclarecer melhor em que consistia o problema posto pela questão; por isso, na dinâmica da disputa e mesmo na leitura que hoje fazemos dessas disputas é melhor ater-se a essa ordem para melhor compreensão. Após a apresentação dos argumentos vem a determinação da questão, que é o momento em que o mestre apresenta a sua resposta. 

       Em seguida, deve-se responder aos primeiros argumentos, contrários à solução; é um momento delicado, em que o mestre deve manejar os textos aduzidos como argumentos de autoridade e, sempre que se tratarem de textos sagrados ou de autoridades, procurará harmonizá-los, fazendo desvanecer aparentes contradições.

3- Lista das 11 perguntas anteriores

       Dessa forma as perguntas anteriores foram as seguintes:

       1- Que é a verdade?

       2- A verdade encontra-se primariamente na inteligência ou nas coisas?

       3- A verdade reside somente no intelecto sintetizante e analisante?

       4- Haverá uma só verdade, em virtude da qual todas as coisas são verdadeiras?

       5- Haverá alguma outra verdade eterna, além da verdade primeira?

       6- A verdade criada será imutável?

       7- A verdade se predica, em Deus, da essência ou das pessoas?

       8- Todas as verdades derivam da Verdade Primeira?

       9- A verdade existirá nos sentidos?

       10- Existirá alguma coisa falsa?

       11- Existirá falsidade nos sentidos?

       Assim, nossa conclusão é com esta pergunta:

       Existirá falsidade na inteligência?

       A última pergunta segue  este esquema simples:

       1- TESE

       2- CONTRATESE

       3- RESPOSTA A QUESTÃO ENUNCIADA

TESE: NÃO PARECERIA HAVER FALSIDADE NA INTELIGÊNCIA.

       O intelecto tem dois modos de operar: um é aquele mediante o qual forma as quididades das coisas, e nesta operação não há falsidade, como diz o Filósofo [Aristóteles] no livro III Sobre a Alma; o outro é aquele mediante o qual opera a síntese e a análise, sendo que também aqui não há falsidade, segundo se demonstra por Agostinho no livro Sobre a Verdadeira Religião, onde se lê: "Ninguém compreende coisas falsas". Logo, não existe falsidade no intelecto. (1)

       Lê-se em Agostinho, no livro LXXXIII das Questões: "Se alguém se engana, é porque não entende aquilo em que se engana". Logo, a inteligência é sempre verdadeira, e consequentemente não pode haver falsidade nela. (2)

       Al Gazali (teólogo árabe) afirma: "De duas. uma: ou compreendemos uma coisa como ela é, ou não compreendemos". Ora, todo aquele que compreende uma coisa como ela é, compreende de modo verdadeiro. Logo, o intelecto é sempre verdadeiro, e portanto não existe falsidade nele.  (3)

Comentário

       A tese procura explicar o processo mental do entendimento humano em suas partes, que são: ideias quidistantes (que respondem a pergunta: O que é? – QUID – em latim), e ainda as ideias analíticas e sintetizantes que envolvem apresentação de raciocínios que são produtos da reflexão entre ideias contraditórias buscando uma solução para problemas lógicos e existenciais.

       Dessa forma, seja como for as conclusões dessas ideias quidistantes (conceituais), analíticas e sintéticas serão sempre sem falsidade nenhuma.

       Porque só há falsidade se há falta de compreensão das coisas que são apresentadas.

       Percebe-se que Aquino substancia tese com Aristóteles, Agostinho e um escritor árabe muçulmano Al Gazali, já que para Aquino o uso destes autores demonstra o amplo diálogo intelectual que utiliza para o trato do assunto.

CONTRATESE: PARECERIA EXISTIR FALSIDADE NA INTELIGÊNCIA.

       Pois o Filósofo [Aristóteles] afirma, no livro III Sobre a Alma, que, onde existe combinação ou síntese das coisas apreendidas (no intelecto sintetizante). ali já existem mesclados o verdadeiro e o falso. Logo, existe falsidade na inteligência.

Comentário

       A  partir das observações de Aristóteles. Tomás de Aquino demonstra que ao perceber elementos de falsidade no processo do raciocínio humano, já comprovam que a falsidade está presente na inteligência ou intelecto.

RESPOSTA A QUESTÃO ENUNCIADA.

       O termo intelecto ou inteligência, pela sua própria etimologia, significa que ele conhece o íntimo das coisas, pois o latim intelligere equivale a intus legere, ou seja, "ler dentro". Os sentidos e a imaginação apreendem apenas os acidentes externos, ao passo que a inteligência, e só ela, penetra até à essência das coisas.

       O termo intelecto ou inteligência pode revestir duas acepções.

       A) No primeiro sentido, a inteligência se entende apenas em relação àquilo de que provém originariamente a designação. Nesta acepção falamos de "inteligência" e de "compreender" no sentido próprio, quando apreendemos as quididades das coisas, ou então, quando conhecemos o que é imediatamente conhecido em uma coisa, ao conhecermos a sua quididade.  (...)

       B) Todavia, a inteligência pode ser entendida também no sentido comum, isto é, enquanto abarca todas as operações, tais como o opinar e o raciocinar.

       Nesta acepção pode haver falsidade no intelecto. Nunca, porém, haverá falsidade se a redução aos primeiros princípios se fizer de modo correto.

Comentário

       Para responder finalmente a esta questão a inteligência se divide em duas operações: 1- conceitual: que ele chamou de quididade (o processo de responder a pergunta sobre o que se pesquisa : O que é? ; 2- Síntese e análise: onde se mostra o processo de opinar e raciocinar.

       Portanto, afinal: Haverá falsidade na inteligência? Se o assunto está incluindo todo o processo de raciocínio sim, mas se todo o processo seguir a ideia de abstração que é a busca pela essência das coisas, até chegar ao chamado ato Puro (A causa de todas as coisas), temos então a resposta como não.

       Enfim, do ponto de vista da quididade, não existe falsidade na inteligência.

Implicações

       1- É preciso organizar nossas ideias para que elas sejam claras e possamos ser entendidos em nossa comunicação;

       2- O foco de toda a pesquisa deve ser direcionado a solução de problemas, para evitarmos o engano.

       3- É preciso privilegiarmos o discernimento em relação aquilo que deve valer a pena para nosso crescimento pessoal.

       AMATE VERITATEM IN OMNI TEMPUS ET PACEM OMNIBUS PERSEQUATE.

       •Amai vós a verdade em todo o tempo, e segui vós a paz com todos.

Referências

       STO. TOMÁS E DANTE Vida e Obra, São Paulo: Nova Cultural, 1988.

       —BATISTA, William Memória da Ausência – os séculos de elaboração do discurso sobre o mistério, Rio de Janeiro: Letra Capital, 2011.

       —GEISLER, Norman & Paul D. Feinberg Introdução a Filosofia, uma perspectiva cristã, Tradução: Gordon Chown, São Paulo Vida Nova, 1983.

       —GILSON, Étienne Por que São Tomás Criticou Santo Agostinho?/ Avicena e o Ponto de Partida de Duns Scotus, tradução: Tiago José Risi Leme. São Paulo: Paulus, 2010.

       —GONZALEZ, Justo L. Uma História do Pensamento Cristão, vol 2. De Agostinho às Vésperas da Reforma, Tradução: Paulo Arantes, Vanuza Freire de Mattos. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.

       —KENNY, Anthony Nova História da Filosofia, São Paulo: Loyola, 2008.

       —PLANTINGA, Alvin Deus, a Liberdade e o Mal tradução: Desidério Murcho, São Paulo:Edições vida Nova, 2012

       —ROSSET, Luciano & Roque Frangiotti Metafísica: Antiga e Medieval, São Paulo: Paulus, 2012.

       CARVALHO, Aristóteles em Nova Perspectiva, 2013, Vide Editorial.




 




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