Os Puritanos nas colônias inglesas da América do Norte no século XVII

 
 
 A implantação do puritanismo nas colônias inglesas da América do Norte é assim caracterizada por Cairns:
A motivação religiosa, porém, foi extremamente importante no estabelecimento de colônias. A maioria das cartas de viagem menciona o desejo dos financiadores de converter os nativos e estender o domínio cristão. Em outros casos, como o dos puritanos de Plymouth e Salém, os colonizadores estavam interessados em cultuar  ao seu modo segundo julgavam melhor. (...) A maioria deles era calvinista. O instrumento usado nesta mudança de pessoas eram as sociedades anônimas, precursoras das grandes empresas contemporâneas. Foram elas que possibilitaram a arrecadação de grandes somas de dinheiro  para financiar tais empreendimentos.[1]
 
A chegada dos puritanos se deu em agosto de 1620 no navio Mayflower, saindo da Inglaterra e aportando em Plymouth na Nova Inglaterra, e em conseqüência tiveram que tirar uma nova licença junto à companhia que lhes financiou a vinda, visto que seu destino deveria ser o norte da Virgínia. [2] Eles eram um total de cem colonos que fugiram da Inglaterra por causa de suas idéias congregacionais separatistas; no início fugiram para a Holanda, mas por medo de que sua juventude se integrasse aos costumes holandeses, preferiram ir para a América.[3]
 
Estes colonos de Plymouth elaboraram um documento de disciplina, que visava evitar ocasionais rebeliões entre eles, e este serviu como constituição para eles até Plymouth ser incorporada às colônias de Salém em Massachussets, no ano de 1691. A vantagem desta congregação não ter aportado na Virgínia foi a de não ficarem sujeitos a perseguição como na Inglaterra, mesmo porque nessa época a política de Willian Laud estava a pleno vapor na Inglaterra e Escócia.[4]
 
Os congregacionais independentes (não–separatistas), a partir de 1628, estabeleceram-se em Salém e Boston. Quando chegou o ano de 1631, os puritanos conseguiram realizar o seu sonho de terem uma colônia onde o congregacionalismo fosse a religião oficial e o direito de voto sobre as questões administrativas desta colônia era reservado somente aos membros da igreja. O primeiro governador escolhido foi John Winthrop.(1588-1649).[5]
 
A vida puritana nesta época é caracterizada por George M. Marsden assim:
 (...) Os puritanos consideravam-se a si mesmos como uma “cidade no alto da colina” para que o mundo os imitasse.(...) A pressuposição do pensamento puritano era a de que o Deus Triúno havia Se revelado a Si mesmo preeminentemente nas Escrituras. (...) Embora as Escrituras não revelassem todas as coisas que alguém precisasse saber (a razão devia ser um guia subordinado), elas tocavam nessas coisas em grande medida e as pessoas deveriam ser guiadas por elas onde quer que falassem. Especialmente na área de preocupações a respeito da redenção, a Bíblia era um guia completo.[6]
 
O governo de Winthrop se caracterizou por querer implantar na colônia uma ética na qual prevalecesse o princípio do amor ao próximo, porém, os pressupostos desta aplicação estavam enraizados na consideração de que toda a colônia era “pelo menos em princípio cristã”, e o relacionamento do povo com Deus era o mesmo relacionamento que Deus teve com Israel no Antigo Testamento.[7] Isto implicava num estado teocrático, uma sociedade governada pelos melhores princípios extraídos das Escrituras, porém com uma transposição das leis do Antigo Testamento em caráter literal para a comunidade estabelecida, acarretando uma união entre a Igreja e o Estado.[8] O resultado de tudo isto foi que na América os puritanos de fugitivos passaram a perseguidores, aplicando penas aos que discordavam de sua uniformidade governamental e religiosa.
 
Leland Ryken caracteriza esta intolerância dos puritanos com a seguinte declaração:
 Hoje se considera uma marca de pessoas sensatas respeitar e tolerar pontos de vista distintos dos seus. Os Puritanos em geral falharam em alcançar este ideal. (...) Esta falha em lidar com o fenômeno do pluralismo na sociedade foi especialmente aguda na Nova Inglaterra, onde os Puritanos foram a força dominante e onde desenvolveram estratégias coercitivas para negar a liberdade de consciência  aos dissidentes.[9]
 
No ano de 1646, os puritanos de linha congregacional, no Sínodo de Cambridge, adotaram a Confissão de Fé de Westminster, como padrão doutrinário e a “Plataforma de Cambridge”, como padrão de governo e disciplina das igrejas, em que cada uma delas se interrelacionaria através de um concílio, tendo Cristo como cabeça da Igreja. Também aqui é destacada a atuação de John Eliot (1604-1690), que foi o primeiro missionário que atuou entre os índios da América do Norte e chegou até a traduzir  e publicar toda a Bíblia no dialeto indígena nos anos de 1661 e 1663.[10]
 
Por último, um líder que também se destacou nesta época foi Roger Willians (1603-1683), pois defendia a separação da igreja e do estado, a liberdade religiosa, e o direito de posse de terras pelos índios; por ser perseguido por causa destas idéias, fundou a colônia de “Providence”(1636). E no ano de 1639 ajudou a fundar uma igreja batista. [11]
 
Não há uma data certa para marcar o fim do movimento puritano nem na Inglaterra e nem nas colônias inglesas na América do Norte, porém tudo o que foi feito no período colonial, em que os puritanos estiveram atuando, preparou terreno para o “Avivamento”(Despertamento) no século XVIII, tanto na Grã-Bretanha quanto nas colônias inglesas na América do Norte.


[1] CAIRNS, Earle. O Cristianismo Através dos Séculos, p.309.
[2] Ibidem, p.310.
[3] Idem.
[4] CAIRNS, Earle. O Cristianismo Através dos Séculos p.310.
[5] CAIRNS, Earle. O Cristianismo Através dos Séculos p.311.
[6] MARSDEN, George M. Origens “Cristãs” da América: A Nova Inglaterra Puritana como um Caso de Estudo in VV.AA. Calvino e sua influência no mundo ocidental, pp. 300,301.
[7] MARSDEN, George M. Origens “Cristãs” da América: A Nova Inglaterra Puritana como um Caso de Estudo, p.303.
[8] Ibidem, pp. 304,305.
[9] RYKEN, Leland. Op.cit, p.209.
[10] CAIRNS, Earle. O Cristianismo Através dos Séculos, p.312.
[11] Ibidem, p.313.

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