Primórdios do puritanismo na Reforma do Século XVI na Inglaterra


 

Segundo Leland Ryken, o puritanismo não tem uma data fixa para seu início e também uma data exata para o término,[1] porém há uma concordância[2] em que um dos precursores do movimento foi Willian Tyndale, que, em 1526 edita sua tradução do Novo Testamento em inglês.[3] Com a agitação dos movimentos de reforma acabou sendo martirizado em Vilvorde, , nas proximidades de Bruxelas (atual Bélgica), em 1536.[4]

 Martyn Lloyd Jones caracteriza Tyndale como puritano, falando que ser puritano é antes um tipo de mentalidade, que foi caracterizada em Tyndale desta forma:
(...) Ele tinha um ardente desejo de que o povo comum pudesse ler as Escrituras. Mas havia grandes obstáculos em seu caminho; e é o modo como ele enfrentou e venceu os obstáculos que mostra que Tyndale era um puritano. Ele lançou uma tradução da Bíblia sem o endosso e sanção dos bispos. Esse foi o primeiro tiro dado pelo puritanismo. Era inimaginável  que tal coisa fosse feita sem o consentimento e endosso dos bispos. Contudo Tyndale fez isso. Outra ação de sua parte, que de novo era bem característica dos puritanos, foi que ele saiu da Inglaterra sem permissão real. Esse também era um ato bastante incomum, e altamente repreensível aos olhos das autoridades. No entanto, em seu anseio por traduzir e publicar as Escrituras, Tyndale deixou o país sem o consentimento do rei e foi para a Alemanha , e ali, auxiliado por Lutero e outros, completou sua grande obra. Essas duas ações eram típicas do que sempre foi a atitude dos puritanos para com as autoridades.[5]

O que foi visto, em Tyndale, foram as suas atitudes de protesto contra a ordem eclesiástica estabelecida, quando publicou sua tradução das Escrituras sem a permissão dos bispos, e sua desobediência à autoridade do rei, quando viajou para a Alemanha sem permissão do monarca inglês. Essa atitude de protesto, como vista acima, teve sua origem na preocupação em fazer o povo comum conhecer a mensagem do evangelho contida nas Escrituras. Até este momento, não havia acontecido na Inglaterra um rompimento com o pontificado de Roma.

A Reforma Inglesa deu seus primeiros passos com o rompimento da igreja inglesa (anglicana) junto a Roma, realizada pelo rei Henrique VIII, quando conseguiu que o parlamento inglês, em 1534, promulgasse “uma série de leis proibindo o pagamento de anuidades e de outras contribuições a Roma”, e “a declaração de invalidade do casamento de Henrique com Catarina de Aragão” (que não podia dar um filho “varão” para ser herdeiro da coroa inglesa); e a declaração do rei ser o supremo chefe (cabeça) da igreja inglesa.[6]

Porém, apesar desta atitude de rompimento com Roma, Henrique VIII permaneceu católico em sua teologia. Tanto foi dessa forma que, em 1539, o parlamento inglês aprovou os “Seis Artigos” da igreja anglicana que defendiam: a transubstanciação (a presença real do corpo e do sangue de Cristo na Missa); a negação da comunhão de ambas as espécies (pão e vinho) para os leigos; o repúdio ao casamento dos clérigos; a recomendação de missas privadas e a confissão de pecados feita ao sacerdote. Tudo isto perdurou até o falecimento de Henrique VIII.[7]

Depois da morte de Henrique VIII, a Inglaterra possuía três partidos religiosos: o primeiro era composto pelos favoráveis às medidas do falecido rei; o segundo era formado pelos que eram favoráveis a um retorno à Roma; e o terceiro era formado por uma facção protestante que queria que a igreja anglicana adotasse a teologia e práticas de culto conforme a Reforma dos outros países do continente europeu.[8] Este último partido deu origem aos puritanos.[9]




[1] RYKEN, Leland. Santos no Mundo- Os puritanos como realmente eram, p.23.
[2] Entre Leland Ryken e Martyn Lloyd Jones, este último baseado na obra Tudor Puritanism de Knappen (ver LLOYD-JONES, D.M. O Puritanismo e suas origens, p.6).
[3] RYKEN, Leland. Santos no Mundo- Os puritanos como realmente eram, p.23.
[4] WALKER, Williston. História da Igreja Cristã, p.85.
[5] LLOYD-JONES, D.M. O Puritanismo e suas origens, p.6.
[6] GONZALEZ, Justo L. Uma história Ilustrada do Cristianismo (Vol.6)- A Era dos Reformadores, p.125.
[7] WALKER, Williston. Op.cit., p.86.
[8] WALKER, Williston. Op.cit., p.87.
[9] GONZALEZ, Justo L. Uma história Ilustrada do Cristianismo (Vol.8)- A Era dos Dogmas e das Dúvidas, pp. 51,53.

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