Sobre George Whitefield 1


J.C.Ryle fala sobre o contexto em que viveu este pregador anglicano na Inglaterra do século XVIII:

O estado deste país do ponto de vista moral e religioso em meados do século passado era tão dolorosamente insatisfatório, que é difícil transmitir uma idéia adequada da situação. O povo inglês do tempo presente, que nunca foi levado a inquirir acerca deste assunto, não pode ter uma idéia da escuridão que prevalecia. Do ano de 1700 até a época da Revolução Francesa, a Inglaterra parecia estéril de tudo o que é realmente bom. Como tal estado de coisas pode ter surgido em uma terra de Bíblias livres e de um Protestantismo professo, quase que ultrapassa a compreensão. O Cristianismo parecia jazer como morto, tanto assim que você poderia ter dito: ‘ele está morto’. Moralidade, apesar de muito exaltada nos púlpitos, era completamente pisoteada nas ruas. Havia escuridão nas altas camadas, assim como nas baixas, escuridão na Corte e no campo, no Parlamento e no bar; escuridão no interior e escuridão na cidade; escuridão entre os ricos e escuridão entre os pobres; uma grossa, densa escuridão moral e religiosa; uma escuridão que podia ser sentida.[1]

            A situação na Inglaterra, País de Gales e Escócia era bastante semelhante à das Treze Colônias Inglesas na América do Norte no mesmo período. Na própria Inglaterra se demonstrava esta situação religiosa em declínio, com os seguintes acontecimentos: a igreja anglicana pagava bem seus altos clérigos para pregarem sermões racionalistas e triviais, enquanto o baixo clero era pago em pequenas somas que mal davam para o sustento; muitos desses clérigos eram dependentes de senhores de terras e viviam em bebedices e na prática de esportes grosseiros; [2] a alta taxa de mortalidade ocasionou a ida de muitos para os hospícios;[3]  o vício da jogatina era exorbitante no meio da população;[4] as famílias se divertiam assistindo brigas de touros, ursos, raposas e galos presos, e por último, o assistir a execuções por enforcamento no Tyburn Hill era tido como passatempo de gala.[5]
            Nesta mesma época o pietismo,[6] surgido na Alemanha com Spener (1635-1705), começou a influenciar a vida inglesa na formação de “sociedades de oração”, semelhantes às empregadas pelo pietismo na Alemanha, destacando o grande impulso que elas tiveram a partir da republicação da obra puritana do século XVII “A Essência da Teologia Moderna” de autor anônimo. Estas sociedades só tiveram maior impulso a partir da década de 1730, quando foi formado o “Clube Santo” ou “Grupo dos Metodistas” na Universidade de Oxford com os irmãos Wesley (Charles e John) e ainda de George Withefield.[7]
            A partir daqui o avivamento metodista ou evangélico, como é descrito por Williston Walker,[8]tem seu início, e é dentro deste movimento que Whitefield começa seu ministério, sendo que suas ênfases teológicas estão mais ligadas ao movimento puritano[9] do que ao pietismo dos irmãos Wesley.
           

[1] RYLE, J. C. George Withefield, Tradução: Paulo R. B. Anglada, [http://www.geocities.com/arpav/biblioteca].
[2] CAIRNS, Earle E., O Cristianismo Através dos Séculos, p.328.
[3] Idem.
[4] Idem.
[5] Idem.
[6] O pietismo foi um movimento de reação contra a fria intelectualidade da vida religiosa dos pregadores na Alemanha, tendo como objetivo resgatar a alegria do viver cristão através dos exercícios religiosos e da prática da santidade no dia a dia. GONZALEZ, Justo L. Op.cit., p.156.
[7] WALKER, Williston. História da Igreja (Vol.2), p. 205.
[8] Ibidem, p.203.
[9] Exemplo disto, em Whitefield foi o uso que ele fez da obra de Joseph Alleine An Alarme to the Uncoverted (traduzida no Brasil como: Um Guia Seguro para o Céu), conforme relatou Iain Murray num prefácio a esta obra no ano de 1959. ALLEINE, J. Um Guia Seguro para o Céu, Tradução: Sylvia E. de Oliveira, São Paulo: PES, 1987, p.9.
[10] WALKER, Williston. Op.cit., p.206.

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