O Papel de Mônica de Tagaste na Vida de Agostinho de Hipona
O objetivo desta reflexão é descrever como a mãe de
Agostinho, Mônica, foi fundamental para a vida deste escritor cristão da época
Patrística. E assim, com descrição é constatada a importância da mãe na vida de
cada pessoa em sua existência. Não é uma biografia no rigor científico da
palavra apenas um ensaio.
Esta reflexão começa com a visão acerca da mãe de
Agostinho de Hipona (354-430). Conhecido como líder do Cristianismo na África
do Norte no século IV foi bispo, escritor, polemista. Influenciou o
cristianismo ocidental, tanto o cristianismo católico, quanto o cristianismo
protestante. Em termos de filosofia representou a patrística em seu apogeu, e
foi “a fonte” para as reflexões da filosofia escolástica medieval, serviu de
base para Anselmo de Aosta (Cantuária), Alberto Magno, Tomás de Aquino. Uma
definição de Escolástica é a seguinte: maneira de pensar e método didático que
dominou a educação cristã entre os séculos XI e XV. (...) Os escolásticos de quem
o movimento recebeu o nome, eram os eruditos das primeiras universidades
europeias (...) O método escolástico se caracterizou no final pela sua
confiança na primazia da forma sobre o conteúdo.(ROHMAN, Chris O livro das
ideias, Rio de Janeiro: Campus, 2000, p.136).
Então, acerca de Agostinho pode ser afirmado que o
exemplo e o cuidado de sua mãe Mônica foram fundamentais para que se tornasse o
gigante que se tornou como escritor e líder do cristianismo. Nascido em Tagaste
no ano de 354, foi filho de um oficial romano pagão, e de sua mãe Mônica
(332-387) cristã fervorosa. Toda vida de Agostinho foi marcada pelo afeto da
mãe, a tal ponto dele mencionar muito pouco o pai dele em suas obras (GONZALEZ,
Justo L. A Era dos Gigantes, São Paulo, Vida Nova: 1980, p.164).
Resumindo bem a jornada intelectual de Agostinho: os pais
enviaram o filho para Cartago, onde valorizou bastante seus estudo, e também
conheceu os prazeres que a cidade oferecia e passou a conviver com uma mulher
com quem teve seu único filho Adeodato. O interesse principal de Agostinho
estava na retórica, a arte de falar bem (esta dirigida a advogados e
funcionários públicos), portanto não estava interessado na busca pela verdade,
mas somente em persuadir os demais a aceitar suas opiniões como certas e
justas. (GONZALEZ, 1980, p.165)
Desta busca intelectual chegou ao maniqueísmo (doutrina
da eterna luta entre o bem e o mal como forças iguais, esta de origem persa
fundada por Mani no século III com aparentemente alguns elementos de
cristianismo); portanto o maniqueísmo ensina que a matéria é má, já o espírito
é luz e bondade. Por que Agostinho aceitou o maniqueísmo? 1- Porque considerou
as Escrituras cristãs um emaranhado de literatura sem beleza registrando
episódios de violência, violações e engano. 2- A origem do mal. Se Deus criou
todas as coisas sendo bom, por que o mal existe? Contudo, Agostinho não passou
de ouvinte, porque estas questões não obteve resposta, principalmente acerca do
mal, assim desiludido foi a Roma onde se tornou neoplatônico. O neoplatonismo
se caracteriza por ser uma filosofia elaborada pelos adeptos gregos e romanos
de Platão, e mais tarde importante para os cristãos, sendo associada ao
filósofo Plotino do século III que afirmava que o universo emana de um Uno
infinito. (ROHMAN, 2000, p. 289). O neoplatonismo respondia a questão do mal
afirmando que o mal era um afastamento do Uno criador de todas as coisas, e
ainda ajudou Agostinho a entender a alma e Deus em termos menos materialistas
ao contrário do maniqueísmo. Só faltou uma coisa: como entender as Escrituras
cristãs? A resposta veio com as pregações do bispo Ambrósio de Milão, que
afirmou que as Escrituras precisavam ser entendidas de forma espiritual
(alegoricamente) no lugar da literalidade. Assim, ele de fato se tornou
cristão.
Quanto a sua mãe Mônica, ela acompanhou Agostinho em
todas as suas viagens, sempre fazendo orações para que se tornasse cristão. A
partir daqui faço as citações de Agostinho sobre as atitudes de sua mãe.
1- Atitude de se preocupar que Agostinho não seguisse
caminhos fora da fé cristã:
“Mas nessa época já tinhas começado a levantar no coração
de minha mãe, teu templo e os alicerces de tua santa morada; (...) Por isso,
minha mãe perturbou-se com santo temor. Embora eu ainda não fosse batizado, temia
que eu seguisse as sendas tortuosas por onde andam os que te voltam as costas,
e não o rosto.” (Confissões Livro II, Capítulo 3)
Aqui, Agostinho descreve como Deus tocou no coração de
sua mãe para que ele vivesse uma vida que honrasse a Deus e aos anseios dela
que desejava ver o bem na vida de seu filho.
2- Atitude de aconselhar o filho a cultivar valores como
fidelidade no casamento e pureza sexual:
“Lembro bem que um dia me admoestou em segredo, com
grande solicitude, que me abstivesse da luxúria e, sobretudo, que não cometesse
adultério com a mulher de ninguém. Porém, estes conselhos pareciam-me próprio
de mulheres (...) Mas na realidade, eram teus ...” (Confissões Livro II,
Capítulo 3)
Agostinho reconhece estas virtudes que a mãe aconselhou-o
muito mais do que as palavras de uma pessoa comum, ainda que fosse mais tarde,
os conselhos serviram para moldar sua forma de pensar e entender não só o
cristianismo mas princípios sólidos de relacionamento familiar.
3- Atitude de fé, uma atitude em confiar na certeza de
sonhos realizados:
“Confesso, Senhor, e muitas vezes disse que, pelo que me
recordo, me abalou mais esta tua resposta pela solicitude de minha mãe (...)
que o mesmo sonho com o qual anunciaste
a esta piedosa mulher com tanta
antecedência, a fim de consolá-la em sua aflição presente, uma alegria que só
havia de se realizar muito tempo depois.” (Confissões Livro III, Capítulo 11)
Este trecho das Confissões fala da experiência de Mônica que após vários momentos de choro e lágrimas
pela situação espiritual de Agostinho, num sonho acaba tendo a certeza de que
mais cedo ou mais tarde ele deixaria de ser maniqueu, e se tornaria cristão, ou
seja, nunca desistiu de ver a mudança de vida para seu filho. Mônica é o
exemplo do coração de mãe que sempre consegue no final vivenciar a esperança,
ou seja, olhar além dos obstáculos e sempre mirar em direção dos sonhos a
realizar.
4- O coração agradecido demonstrado pela obediência às
instruções pastorais:
“De fato, ela o estimava muito por ter-me salvado, e ele
tinha em grande estima pela religiosidade e solicitude com que frequentava a
igreja, na prática das boas obras.” (Confissões Livro VI, Capítulo II)
Agostinho menciona o episódio em que o bispo Ambrósio que
foi instrumento para sua conversão, orientou sua mãe para que ela deixasse de
celebrar os mártires cristãos em seus sepulcros utilizando-se de vinho, e que
ela prontamente obedeceu o bispo entendo que a melhor forma de ser grata pela
mudança de vida de Agostinho seria acatando as palavras do bispo. A abnegação,
o desprendimento, a gratidão de Mônica são exaltados neste episódio que o bispo
africano relata.
5- As virtudes de uma mãe e esposa exemplar:
“... faleceu minha mãe. (...) Não referirei suas
qualidades, mas os dons [Ó Deus] que lhe deste, porque nem ela se fez a si
mesma (...) Foi Tu quem a educaste (...) digno membro de Tua Igreja. (...) Ela
própria cuidava solicitamente das meninas que lhe haviam sido confiadas, ora
repreendendo-as quando fosse o caso, com santa e enérgica severidade, ora
instruindo-as com discreta prudência. (...) E unindo assim o conselho à
autoridade, refreava os apetites daquela tenra idade, e acostumava aquelas
jovens à temperança, para que não tivesse desejo do que não lhes convinha.”
(Confissões Livro IX, Capítulo 8)
“... foi dada em matrimônio a um homem, a quem serviu
como a senhor. Procurou conquistá-lo para Ti [Ó Deus], falando-lhe de Ti com
suas virtudes... Suportou suas infidelidades conjugais com tanta paciência, que jamais teve a maior
briga por isso, pois esperava que a Tua misericórdia viria sobre ele, e que lhe
trouxesse, com a fé, a castidade. (...) A esta tua boa serva, em cujo seio me
criaste (...) dotaste de outra grande virtude: a de intervir como pacificadora,
sempre que podia, nas discórdias e querelas. (...) Assim era minha mãe ensinada
por Ti, mestre interior, na escola de Seu coração. (Confissões Livro IX,
Capítulo 9)
Agostinho caracterizou sua mãe como exemplo de virtudes,
sempre dando o crédito a Deus por estas virtudes. As virtudes incluíam ensinar
às jovens moças a se portarem de forma honrada, ser firme, prudente,
conciliadora, pacificadora, com muito amor por seu marido e filhos,
principalmente desejando levar todos à fé cristã.
IMPLICAÇÕES:
A vida de Mônica de Tagaste demonstra as seguintes
possibilidades de uma vida equilibrada e saudável diante das adversidades
1- A vida e exemplo de uma
mãe marcam a vida de seus filhos;
2- A vida de uma mãe
pacificadora demonstra o sentido para um filho poder construir relacionamentos
duradouros;
3- O caráter honesto de uma
mãe é a medida de aferição para um caráter firme e honesto;
4- A mãe é a referência para
união familiar e o equilíbrio emocional diante das adversidades emocionais.
E tantas outras coisas podem ser faladas.
Concluindo: a vida de Mônica foi marcante para Agostinho
ter sido o que foi. Não há livros escritos por ela, mas suas atitudes falaram
mais que quaisquer livros. Podemos escrever mil livros, mas se nossas atitudes
não contribuem para formação de pessoas que fazem bem à sociedade, essas obras
devem ir para o lixo.
AMATE VERITATEM IN OMNI
TEMPUS ET PACEM OMNIBUS PERSEQUATE.
Amai vós a verdade em todo o
tempo, e segui vós a paz com todos.
Obrigado.
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