A prática evangelística de Brainerd no trabalho missionário 2
Esta é a conclusão da sequência de postagens, assim viro o capítulo da lembrança de meus dez anos de Bacharel em Teologia pelo antigo Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro em 2003.
Porque
com certeza a obra de Deus sempre aponta para um único fim, a glória de Deus,
“Porque dele e por meio dele e para ele são todas as cousas. A ele, pois a
glória eternamente. Amém.” (Rm 11.36).
Dentre os métodos empregados por Brainerd
na evangelização dos índios, ele utilizou a instrução individual como foi
registrado em seu diário, no dia 1 de julho de 1745, agora trabalhando em
Crossweeksung:
(...)
Novamente preguei por duas vezes a uma assembléia muito séria e atenta, pois agora
já haviam aprendido a freqüentar reuniões de culto a Deus com decência cristã
em todos os sentidos. Eram agora cerca de quarenta a cinquenta índios
presentes, idosos e jovens. Passei considerável tempo explicando-lhes o
cristianismo de maneira mais individual. Indaguei o que podiam lembrar das
grandes verdades que vinha lhes ensinando dia após dia; posso testificar quão
admirável foi a maneira como assimilaram e retiveram as instruções que eu lhes
dera, e quanto conhecimento adquiriram em tão poucos dias.[1]
Brainerd como evangelista também não
deixou de pregar sobre o pecado, com a necessidade de abandoná-lo, e ainda a
apresentação de Cristo como salvador bondoso e compassivo para com os
pecadores. Diz ele em seu diário, no dia 3 de agosto de 1745:
(...)
Visitei os índios dessa região [Crossweeksung] no último mês de junho, tendo
passado com eles bastante tempo, dirigindo-lhes a palavra quase diariamente. Em
tal ocasião, Deus achou por bem derramar sobre eles o espírito de despertamento
e preocupação com suas almas, e, para minha surpresa, fixaram a sua atenção
sobre as verdades divinas. Agora encontrei-os em uma atitude séria e alguns
deles sob profunda preocupação e interesse por Cristo. Durante a minha
ausência, as convicções deles sobre sua condição pecaminosa condenada foram muito reforçadas pelos
labores do Pastor Willian Tennent. Eu havia recomendado aos índios que
buscassem as orientações dele e freqüentaram muito a sua residência enquanto
estive afastado. (...) Mas estou persuadido que o Senhor capacitou-me, de
maneira um tanto incomum, a apresentar diante deles o Senhor Jesus Cristo como
um Salvador bondoso e compassivo, o qual convida aos pecadores aflitos e que
perecem em seus pecados, a aceitarem a sua misericórdia eterna.[2]
A conseqüência de tudo isto na
pregação de Brainerd é a pregação da obra completa de Cristo em favor dos
pecadores. Desta forma, ele se expressou falando sobre a obra de avivamento no
meio dos índios, no dia 6 de agosto de 1745:
(...) Todos
pareciam ter entrado em agonia de alma, na sua sede por Cristo. Quanto mais eu
falava sobre a compaixão e o amor de Deus, o qual enviou o Seu Filho para
sofrer pelos pecados dos homens e quanto
mais os convidava a vir e participar de
seu amor , tanto mais aumentava a agonia deles, por sentirem-se incapazes de
ir. Eu me surpreendia ao perceber como seus corações pareciam traspassados
pelos ternos e comoventes convites do evangelho, mesmo que nenhuma palavra
aterrorizante lhes fora dita.[3]
A vida de Brainerd serviu como fator
de motivação para homens como Willian Carey e Henry Martyn, ambos missionários
que atuaram na Índia no início do século XIX. Sendo que no mundo de fala
inglesa o primeiro, Carey, é considerado o “pai das missões modernas”, e isto
porque foi motivado pelo exemplo de Brainerd ao trabalhar com os indígenas.[4]
Ao término deste capítulo,
constata-se que o assumir um posicionamento reformado não impede o cumprimento
da evangelização. Defender doutrinas como: o pecado original, a predestinação e
a providência de Deus, levam os cristãos a buscarem o crescimento do reino de
Deus. David Bosch fala sobre a dimensão missionária do calvinismo, que na
pesquisa é sinônimo de reformado, falando sobre o conceito de crescimento e
propagação do reino de Deus, segundo Calvino:
Para Calvino,
o Cristo exaltado à direita de Deus era eminentemente o Cristo ativo. Em certo sentido, Calvino
subscrevia uma escatologia que se encontrava em processo de cumprimento. Ele
empregava o termo regnum Christi (o reinado de Cristo) nessa
acepção, entendendo a igreja como intermediária entre o Cristo exaltado e a
ordem secular. Tal base teológica só poderia conceber a idéia da missão como
“estender o reinado de Cristo”, tanto através da renovação espiritual do
indivíduo quanto por meio da transformação da terra plenificando-a com o
“conhecimento do Senhor” A relação entre essas duas dimensões, denominadas,
muito apropriadamente, de “vertical” e “horizontal”, caracterizou grande parte
do calvinismo dos séculos posteriores e exerceu influência profunda sobre a
teoria e prática missionárias.[5]
Esta declaração de Bosch se aplica
muito bem à questão de que: “a evangelização faz parte da missão”[6],
portanto o pensamento reformado ou calvinista sempre se preocupou com a
expansão do reino de Deus. E, portanto, todo aquele que aceita a doutrina da
predestinação “tem um envolvimento ativo na missão”[7],
logo, quem é envolvido com a missão da igreja é envolvido com a evangelização.
Os exemplos do envolvimento
reformado, como no caso de George Whitefield em seu evangelismo, de Jonathan
Edwards em sua teologia, trabalho pastoral e missionário com os índios enquanto
esteve em Stockbridge, e por último, o trabalho de David Bainerd junto aos
índios, mostram a influência que receberam da teologia reformada, e de modo
particular do pensamento puritano.
Franklin
Ferreira diz uma frase que mostra o
quanto o evangelista deve estar confiado na soberania de Deus: “Então a
doutrina da soberania de Deus é um forte incentivo para a evangelização (...) O
evangelista pode pregar descansado no fato de que a pregação fiel é a sua
responsabilidade, e o resultado é responsabilidade de Deus.”[8]
[1] EDWARDS,
Jonathan. A Vida de David Brainerd,
p.99.
[2] EDWARDS,
Jonathan. A Vida de David Brainerd,
p.104.
[3] EDWARDS, Jonathan. A Vida de David Brainerd, p.106.
[4] TUCKER, Ruth A. Op.cit, p.127.
[5] BOSCH, David J. Missão Transformadora,, p.313.
[6] Ibidem,
p. 492.
[7] BOSCH, David J. Missão Transformadora, p.315.
[8]
FERREIRA, Franklin. A Soberania de Deus e
a Reponsabilidade Humana: Se Deus faz tudo porque me preocupar? In Século 21. Desafios da Fé:A procura da
verdade numa época de falsidade, p.29.
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