Tomás de Aquino: Questões Discutidas sobre a Verdade - Haverá alguma outra verdade eterna, além da verdade primeira? (Pergunta 5)
Introdução:
- As
primeiras 4 perguntas são as seguintes:
- 1-
Que é a verdade?
- 2-
A verdade encontra-se primariamente na inteligência ou nas coisas?
- 3-
A verdade reside somente no intelecto sintetizante e analisante?
- 4-
Haverá uma só verdade, em virtude da qual todas as coisas são verdadeiras?
- As
respostas são as seguintes resumidamente:
- Primeira:
De fato tudo que é verdadeiro é o próprio ser, ou seja, a verdade e o ser
absoluto são correspondentes.
- Segunda:
A verdade encontra-se primariamente na inteligência à medida que está
relacionada à inteligência divina, caso não esteja na inteligência divina
a verdade deixa de ser o que é.
- Terceira:
A verdade reside em duas faculdades do intelecto humano: discernimento
(intelecto sintetizante e analisante) e no intelecto formulador de
definições (intelecto quidistante).
- Quarta: A verdade única é a verdade divina, que
é a Verdade Primeira, porque está acima das demais verdades porque é
incriada.
- Portanto,
prosseguimos seguindo o comentário da argumentação da pergunta de hoje que
é esta: Haverá alguma outra verdade eterna, além da verdade
primeira?
- Mais
uma vez retomamos o seguinte esquema escolástico:
- TESE CONTRATESE RESPOSTA
- Este
esquema faz parte do chamado discurso dialético aristotélico, que por sua
vez foi a herança que Aristóteles recebeu de Sócrates via Platão.
- O
discurso dialético é aquele que parte de premissas que podem ser
incertas, mas que são aceitas sob determinadas circunstâncias e por um
público mais ou menos homogêneo e conhecedor do assunto, isto é, parte de
premissas prováveis. (CARVALHO, Aristóteles sob nova perspectiva, 2013)
TESE: PARECERIA EXISTIR MAIS DO QUE UMA VERDADE ETERNA.
- “Anselmo
afirma no Monológio (capítulo XVII), ao falar da verdade das proporções
(coisas enunciáveis): "Quer se diga que a verdade tem início ou fim,
quer se negue isto, a realidade é que a verdade carece de princípio e de
fim". Ora, o princípio de que a verdade ou tem início ou fim, ou não
os tem, vale para todas as verdades. Portanto, nenhuma verdade tem início
nem fim. Ora, isto é o mesmo que dizer que todas as verdades são eternas.”
- “Além
disso, se a verdade das proposições não for eterna, deve-se determinar
quando as proposições são verdadeiras e quanto não o são. Ora, neste caso
esta proposição é verdadeira, isto é, que nenhuma proposição é verdadeira.
Logo, existe a verdade das proposições, o que é contrário à suposição
feita. Por conseguinte, não se pode afirmar que a verdade das proposições
não é eterna.”(3)
- “Além
disso, o Filósofo demonstra, no livro I da Física, que a matéria é eterna
(embora isto seja falso), pelo fato de ela permanecer depois de
corromper-se e existir antes de ser gerada, visto que, se se corrompe,
corrompe-se em algo, e se é gerada, é gerada de algo.
- Ora,
aquilo de que algo é gerado é a matéria, e aquilo em que se corrompe é
também a matéria...”(4)
- Examinando
cada argumento pode ser dito que:
- * A
tese distingue diversos tipos de verdades: como a “verdade das proporções”
, ou seja, a partir de Anselmo a essência da verdade é aquela é eterna e
portanto todas que derivam dela são eternas, quer dizer a uma relação de
correspondência.
- *
Outra categoria é a “verdade das proposições” nesta se percebe o seguinte:
sendo a proposição não eterna, logo deve se verificar se é verdadeira ou
não. Exemplo: Jorge é casado. Só é verdade na medida em que
ele tenha uma companheira, pode ser para sempre? Não, porque a própria
natureza do casamento é ... Até que a morte os separe. Portanto, se a
morte separou, já não será mais verdade que Jorge é casado, e aqui não é
mencionada a possibilidade de divórcio...
- CONTRATESE:
PARECERIA NÃO EXISTIR NENHUMA OUTRA VERDADE ETERNA, ALEM DA VERDADE
PRIMEIRA INCRIADA.
- “Nenhuma
coisa criada é eterna. Ora, todas as verdades, exceto a Primeira, são
criadas.
- Logo,
só a Verdade Primeira é eterna.” (1)
- “Além
disso, o ente e o verdadeiro são conversíveis. Ora, só existe um ente
eterno.
- Logo,
só existe uma verdade eterna.” (2)
- Estas
duas proposições da contratese não admitem outras verdades eternas, a não
ser a Verdade Primeira que se identifica com Deus. Em outras, a verdade se
identifica com o ente (ser) de Deus, que é eterno.
- RESPOSTA
A QUESTÃO ENUNCIADA.
- “Conforme
expusemos, a verdade implica concordância e comparação (comensuração),
razão pela qual uma coisa se denomina verdadeira enquanto é comparada
(comensurada) com outra e lhe é conforme.
- Ora,
um corpo é comensurado por uma medida intrínseca (como por exemplo a
linha, a superfície ou a profundidade) e à base de uma medida extrínseca
(por exemplo, o objeto localizado é comensurado pelo espaço, o movimento
pelo tempo, o pano pelo metro).”
- Neste
sentido Aquino menciona para que se chegue a verdade é preciso de um meio
para se comparar a relação entre a verdade e outra verdade correspondente.
Usando a ideia de medição ou comensuração. Para isso, ele dá o exemplo dos
instrumentos de medição, hoje seria: termômetros, medidores de pressão
arterial, barômetros etc.
- “Assim
também uma coisa pode ser denominada verdadeira de dois modos: em relação
à verdade a ela inerente e em relação a uma verdade extrínseca. Assim,
todas as coisas verdadeiras se denominam tais com respeito à Verdade
Primeira. Ora, como a verdade existente na inteligência é comensurada
pelas próprias coisas, conclui-se que não só a verdade das coisas mas
também a verdade do conhecimento ou da anunciação que o exprime se
denominam tais com respeito à Verdade Primeira.”
- Aqui
a proposição é a seguinte: algo é chamado de verdadeiro quando é medido
pelo que há nele mesmo, e pelo que há fora dele. Exemplo: A justiça é a
capacidade retribuir a cada um o que é devido. (máxima platônica). Agora
quem valida esta informação fora da própria proposição? Para Aquino é a
Verdade Primeira já que na Suma Teológica questão XVI artigo 5 em que Deus
em Cristo é o caminho, a verdade e a vida.
- Portanto,
justiça e verdade são correspondentes. E no conjunto como em Deus não
há conhecimentos distintos só conhecimento único, e como Deus não se
prende ao tempo pois Ele é a própria eternidade.
- Por
conseguinte, não existem muitas verdades eternas, mas uma só.
- RESPOSTA
AOS ARGUMENTOS DA TESE.
- “Ao
passo que todas as outras categorias colocam algo na natureza das coisas —
assim, por exemplo, a quantidade designa um algo, precisamente por ser
quantidade... (16)
- Existem
certas relações que não colocam nada na natureza das coisas, mas apenas na
esfera lógica.”
- “Isto
pode ocorrer de quatro maneiras, conforme se pode ver nos escritos do
Filósofo [Aristóteles] e de Avicena.
- Primeiro,
quando alguma coisa é posta em relação consigo mesma, por exemplo, ao
declararmos a sua identidade consigo mesma.
- Segundo,
quando a própria relação é posta em relação com alguma coisa.
- Terceiro,
quando um dos termos da relação depende do outro, e não vice-versa, assim
como o conhecimento depende dos objetos a serem conhecidos, e não
vice-versa. A relação do conhecimento com o objeto a ser conhecido
constitui algo de real na natureza das coisas, ao passo que a relação do
objeto com o conhecimento existe apenas na esfera lógica.”
- “Quarto,
o ser é comparado com o não ser, por exemplo, quando dizemos que nós somos
antes daqueles que serão depois de nós; do contrário seguiria que poderia
haver um número infinito de relações numa mesma coisa, se a geração
continuasse até ao infinito no futuro.”
- “Dos
dois últimos pontos aparece que aquela relação de prioridade nada coloca
na natureza das coisas, mas apenas na inteligência que conhece; isto por
duas razões: porque Deus não depende das criaturas, e porque tal
prioridade exprime uma comparação entre o ser e o não ser.
- Daqui
não se concluiria, portanto, que haveria alguma outra verdade eterna além
da existente na inteligência de Deus, o qual é o único eterno; esta é a
Verdade Primeira.”
- Nesta
parte Aquino através das leituras de Aristóteles e do filósofo islâmico
Avicena (intérprete de Aristóteles) mostrou os quatro passos para um
método de constatação das relações entre a natureza das coisas, seguindo a
lógica: 1- a relação consigo mesma, demonstrando sua singularidade; 2- a
relação da natureza coisas com alguma coisa. Exemplo é o de paternidade já
que isto está relacionado diretamente de pai para filho sem intermediários;
3- a dependência de relação entre um objeto e outro, ou seja, um ser
buscando conhecer outra natureza ou outra coisa, mas o conhecimento em si
não é a relação; 4- a relação do ser com o não-ser, isto significa que
como seres limitados só poderemos manter relação com tudo aquilo que está
ao nosso alcance, por não sermos infinitos e eternos não podemos ter
relações com aqueles que virão a ser já que um dia viremos a morrer.
- Assim:
Só existe uma Verdade Primeira, já que só ela contempla a eternidade e
também seu conhecimento diz respeito a tudo.
- IMPLICAÇÕES
- O
CONHECIMENTO E A VERDADE SÃO DERIVADOS DA VERDADE PRIMEIRA E ESTA POR SER
ETERNA COBRE TUDO, PORTANTO CONFIE NA VERDADE ETERNA.
- TODA
A VERDADE SENDO DERIVADA DA VERDADE ETERNA SEMPRE PREVALECERÁ.
- EXAMINEMOS
A NÓS MESMOS E PROCUREMOS SER HONESTOS COM NÓS MESMOS PROCURANDO
RECONHECER QUE NÃO SOMOS DONOS DA VERDADE, SÓ A VERDADE PRIMEIRA É
INFALÍVEL.
- AMATE
VERITATEM IN OMNI TEMPUS ET PACEM OMNIBUS PERSEQUATE.
- •Amai
vós a verdade em todo o tempo, e segui vós a paz com todos.
- REFERÊNCIAS
- STO.
TOMÁS E DANTE Vida e Obra, São Paulo: Nova Cultural,
1988.
- —BATISTA,
William Memória da Ausência – os séculos de elaboração do discurso
sobre o mistério, Rio de Janeiro: Letra Capital, 2011.
- —GEISLER,
Norman & Paul D. Feinberg Introdução a Filosofia, uma
perspectiva cristã, Tradução: Gordon Chown, São Paulo Vida Nova,
1983.
- —GILSON,
Étienne Por que São Tomás Criticou Santo Agostinho?/ Avicena e o
Ponto de Partida de Duns Scotus, tradução: Tiago José Risi Leme.
São Paulo: Paulus, 2010.
- CARVALHO,
Aristóteles em Nova Perspectiva, 2013, Vide Editorial.
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