Metafísica com Aristóteles




1-    Quem foi Aristóteles?
2-    O que se entende por Metafísica?
3-    Como Aristóteles entendeu o estudo do “ser enquanto ser”?
4-    Implicações para nossa vivência.
Quem foi Aristóteles?
            Foi filósofo grego da antiguidade nascido na cidade de Estagira, na Calcídia, região dependente na Macedônia no ano de 384 a.C. Foi discípulo de Platão tendo ingressado na academia platônica entre os anos de 367 e 366 a.C. A saída de Aristóteles da Academia se deu no ano de 347 a.C. Se destaca também que o filósofo foi preceptor (educador) de Alexandre Magno a partir do ano de 343 a.C, tendo terminado esse ofício em 335 a.C quando retorna a Atenas e funda o Liceu e sua morte se deu em 322 a.C quando morre em Cálcis na Eusébia, ilha do Mar Egeu.
            Suas maiores realizações como filósofo foram suas noções de : lógica, estudo da natureza (incluindo a alma), a metafísica, ética e política. Cabe aqui a informação de Baby Abrão: Toda a obra de Aristóteles está, por isso mesmo, animada por forte senso de unidade do mundo da cultura e pelo historicismo ditado, em última instância, por suas concepções metafísicas. (ARISTÓTELES, 2000, p. 15)
O que é Metafísica?
            É interessante o que Kant diz acerca da Metafísica, já que a filosofia em si se baseia em perguntas acerca da existência e da essência das coisas. A metafísica indica a pergunta “O que posso saber?” (KANT, 2002, p.38). Normalmente, os estudos de Kant estavam ligados a ontologia (estudo do ser). Continuando, Kant vai definir a metafísica como “filosofia da natureza que depende de princípios a priori. Lembrando que a priori significa algo antes da experiência, ou independente dela.
            Geisler fala o seguinte sobre a Metafísica: tendemos a restringir a metafísica às explicações da realidade que vão além dos relatos científicos para investigarem a natureza da realidade. (GEISLER, 1983, p.29) E ainda, ele continua dizendo: Em tempos recentes, o grupo de chamados positivistas lógicos tem argumentado que boa parte daquilo que tradicionalmente tinha feito parte da metafísica era pseudo-ciência. Assim, para estes metafísica é contra-senso é algo sem sentido, portanto deve ser eliminada, dessa forma, os filósofos de cunho materialista ignoram a metafísica.
            Agora, retornando aos gregos, a ideia de metafísica vem de dois termos: meta (que pode ser traduzido como além e physis traduzido como natureza). Este nome veio de Andrônico de Rodes que no século I a.C designou os livros sem nome que apareceram depois da Física de Aristóteles na coleção original de suas obras; ou seja, o próprio Aristóteles não chamou estas obras de metafísica, mas preferiu designar como: filosofia primeira.
            Ela é a filosofia originária, que não pressupõe nada, mas está na base de todo o saber filosófico. Aristóteles na verdade, usa também outras expressões equivalentes como: sabedoria, filosofia em sentido absoluto; teologia; ciência pesquisada, ou seja, ciência que, sendo o terno problema do ser e tendo o ser como conteúdo de pesquisa, é ela mesma eterna pesquisa de si; ciência do ser enquanto ser; ciência da substância; ciência da verdade. (MOLINARO, 2002, p.30)
            Assim, uma das formas para se entender a metafísica de Aristóteles é entendê-la como ciência do ser enquanto ser.
Como Aristóteles entendeu o estudo do “ser enquanto ser”?
            Aristóteles considera que a ideia de ser está ligada a de essência. E por isto, a essência verdadeira das coisas naturais, dos seres humanos e de suas ações estão nas próprias coisas, diferente do mundo das ideias de Platão, portanto a tarefa da metafísica é conhecer as essências onde elas mesmas existem.
            Para Aristóteles tudo se resume na ideia de movimento, ou seja, ser é agir e agir é ser. A atividade é a essência da substância. E substância para Aristóteles se define como aquilo que existe numa unidade indissolúvel com o que é, com sua essência e seus acidentes. (ROSSET, 2012, p.62)
            Outro conceito importante, ligado a substância é a ideia de acidente. Acidente é predicado que pode ser dispensável à identidade da substância. É importante ver as seguintes categorias ligadas a ideia de acidente: substância, quantidade, qualidade, lugar, tempo, relação, ação, paixão (poder de sofrer ação), situação/posição, posse/estado. Assim, o ser verdadeiro está na substância, e as demais categorias são apenas maneiras de ser.
            Vamos ver um exemplo de tudo isso: Substância= homem; Quantidade (1 metro); Qualidade: amarelo, roxo; Lugar= Grécia; Tempo= amanhã ou ontem; Relação= duplo, triplo, pai, filho; Ação= cortar, escrever, criticar; Paixão/Sofrer ação= cortar-se, enfeitar-se, enfurecer-se; Situação/Posição= deitado, em pé, inclinado; Posse/estado= despido, trajado.
            Neste estudo ontológico chega-se enfim ao conceito de ato e potência que estão ligados a ideia de movimento, lembrando que Aristóteles na sua metafísica interagiu com os pré-socráticos, de todos os pré-socráticos somente Parmênides julgava que qualquer movimento de mudança no ser era impossível, porque o ser não pode provir do não-ser, uma vez que do nada, nada procede, nem pode provir do ser, pois o ser já é. (ROSSET, 2012, p.65)
            Então quanto ao ensino de ato (energuéia/enteléquia) e potência (dynamis). Pode ser dito: O movimento supõe pois duas coisas: uma coisa que não é ainda realizada, mas que é possível , e a realização dessa coisa. É o que Aristóteles chama a potência e o ato. A potência é a possibilidade que está envolvida no ser. O ato é a realização desta possibilidade. Por exemplo, a árvore está em potência na semente. Estará em ato quando a semente germinar ou lhe der nascimento. Mas o movimento nem é a potência nem o ato. Ele tem a potência como princípio, o ato como fim. Princípios da mudança: 1- É preciso uma potência que possa tomar todas as formas; 2- É preciso que haja uma forma, ou seja, possua uma essência própria. A forma é o ser em ato ou a natureza do mesma do ser, porque o ser em ato é aquilo que é de uma maneira determinada. (ROSSET, 2012, p.75) Isto se vê no livro IX da Metafísica.
            Concluindo, o ser segundo Aristóteles que é o objeto da metafísica, diferentemente do Uno, estaria sujeito ao movimento (kinésis) à mudança. Pois, os seres dependem de quatro causas para sua existência: 1- causa material; 2- causa formal; 3- causa eficiente; 4- causa final. Essas causas se vê no livro I da Metafísica.
Implicações para nossa vivência
1-    Nossa vida está sempre sujeita à mudanças, desde que nascemos estamos em estado de potência, pois estamos sempre em movimento crescimento físico e crescimento espiritual;
2-    Mesmo em nossas adversidades, acabamos nos movendo para o ato, ou seja, a plena realização do nosso ser, como pessoas e indivíduos;
3-    Lugares, tempo, relações, ações; são coisas transitórias o que permanece é nossa essência/ substância que incluem nossas crenças e nosso caráter visando nossa felicidade e a felicidade de nosso próximo. Já que o próprio Aristóteles em sua obra política diz que o ser humano vive em sociedade, aqueles que não vivem ou são animais ou são deuses. Dessa forma, digo que somos apenas pessoas que se movem para sua essência final: a felicidade.
4-    Assim, sejamos humildes para reconhecermos que estamos sempre em mudança e aprendizado.

Leituras Recomendadas:
ARISTÓTELES, Vida e Obra, Coleção Pensadores, São Paulo: Nova Cultural, 2000.
ARISTÓTELES, Metafísica, edição de Giovanni Reale, Tradução: Fidel Garcia Rodríguez, Marcos Marcionilo e Maurélio Barbosa, São Paulo: Loyola, 2002.
GEISLER, Norman & Paul D. Feinberg Introdução a Filosofia, uma perspectiva cristã, Tradução: Gordon Chown, São Paulo Vida Nova, 1983.
KANT, Immanuel Realidade e Existência- Lições de Metafísica, Tradução: Adaury Fiorotti e Armando Rigobello – São Paulo: Paulus, 2002.
MOLINARO, Aniceto Metafísica- Curso Sistemático, Tradução de João Paixão Neto e Roque Frangiotti- São Paulo: Paulus, 2002.
________________ Léxico de Metafísica, Tradução: Benôni Lemos, Patrizia G.E. Collina Bastianetto – São Paulo: Paulus, 2000.
ROSSET, Luciano & Roque Frangiotti Metafísica: Antiga e Medieval, São Paulo: Paulus, 2012.


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