Uma reflexão sobre a teoria da iluminação de Agostinho de Hipona



Introdução
            Esta reflexão se divide da seguinte forma:
A teoria da iluminação está relacionada a qual disciplina da Filosofia?
O que é a teoria da iluminação?
Como o ser humano conhece?
Implicações

A teoria da iluminação está relacionada a qual disciplina da Filosofia?
            Esta teoria está ligada à disciplina da filosofia conhecido como epistemologia, que de maneira simples é conhecida como teoria do conhecimento. Este ramo procura algumas destas perguntas: O que é o conhecimento? (Pergunta Central) Como podemos conhecer? A Certeza é possível?
            As perguntas da epistemologia não são as perguntas da psicologia ou da ciência natural, embora também, certos resultados destas duas ciências possam ser relevantes ao epistemólogo... (GEISLER, 1983, p.28)
            A teoria da iluminação de Agostinho está dessa forma ligada a epistemologia devido a preocupação de responder como o ser humano pode conhecer a realidade e conhecer o criador da realidade (Deus).

O que é a teoria da iluminação?
            Esta teoria nada mais é que uma explicação de como o criador é o Mestre Interior  da alma humana. E como o Mestre Interior se faz entender pelo ser humano? Para isso Agostinho responde com a metáfora da iluminação. Daí com estas duas ideias a do Mestre Interior e da iluminação, que esta teoria é conhecida como: Teoria da Iluminação Divina.
            Primeiro, ela supõe que o ato pelo qual o pensamento conhece a verdade seja comparável àquele pelo qual o olho vê os corpos ...Enfim, ela supõe que, como o sol é a fonte da luz corporal que torna as coisas visíveis, Deus é a fonte da luz espiritual que torna as ciências inteligíveis ao pensamento. (GILSON, 2010, p.159)
            Esta metáfora tem sua origem nos escritos platônicos onde o sol do mundo das ideias (que ilumina o bem no ser humano) se compara com o “sol corporal” que ilumina nosso mundo sensível.
            Entretanto diferente do platonismo que diz a causa desta iluminação ou conhecimento prévio da verdade e da realidade esteja na reminiscência de vidas passadas, como afirmou Platão através de Sócrates nos Diálogos, a causa desta iluminação interior está na alma como imagem e semelhança do criador. (GILSON, 2010, p.161)
            Esta teoria é dependente do relacionamento entre o criador e a alma humana (que é o princípio da vida).
Como o ser humano conhece?
            A dificuldade real começa quando se busca precisar o que concerne a Deus e o que concerne ao homem no ato de conhecimento. A princípio, é bom notar que, muito longe de dispensar o homem de ter um intelecto que lhe seja próprio, a iluminação divina o supõe. (GILSON, 2010, p.164)
            Esta metáfora coloca da seguinte forma a questão de como a alma humana conhece: Primeiro, o pensamento intelectual humano pode ser chamado de luz natural, popis o ser humano sendo dotado de intelecto, é naturalmente um ser iluminado por Deus. Segundo, é a via mística: esta via está ligada à subida da alma retornando a Deus. Esta envolve o subir sete degraus: (MORESCHINI, 2010, p. 475)
            Primeiro degrau: a alma cósmica que vivifica os corpos com sua presença e tem em comum com as plantas.
            Segundo degrau: sentidos que envolvem uma percepção semelhante a que os animais possuem.
            Terceiro degrau: pensamento que é uma faculdade presente exclusivamente nos seres humanos.
            Quarto degrau: a alma que se purifica que procura se conformar na busca pelas virtudes que o aproximam do criador.
            Quinto degrau: a alma purificada que já recebe uma influência direta da ação iluminadora do criador.
            Sexto degrau: a alma que busca a contemplação da verdade neste estágio a alma após ser purificada deseja uma maior intimidade com o conhecimento da verdade representado no criador.
            E assim, o sétimo degrau é a alma que vê e contempla a verdade isto indica o conhecimento pleno de Deus e da verdade.
            O primeiro tipo de conhecimento todo o ser humano pode ter, pois está ligado à luz natural; já a via mística só é possível através do Mediador (Cristo), porque neste sentido a alma está afastada de Deus pelo pecado. Desta forma esta subida da alma para com Deus só é possível, porque o criador vem ao encontro do ser humano e o que falta no ser humano em termos de racionalidade para o sétimo degrau é suprido pela fé. (MORESCHINI, 2010, p.477)
            Agostinho diz assim nos Solilóquios:
            Deus criador de todas as coisas, dê primeiro a graça de saber suplicar-lhe adequadamente, depois me faça digno de ser escutado e por último liberta-me. Deus, por quem todas coisas por si só não poderiam existir, e só possam a ser por vós. Deus, não permita que os seres se aniquilem, e que de si próprios promovam a destruição. Deus que criaste este mundo do nada, o mais belo que os olhos podem contemplar...
            (...) Deus, Pai da Verdade, Pai da Sabedoria e da verdadeira e plena vida. Pai da luz inteligível. Pai de nossas inspirações, com as quais dissipa nosso sono profundo e nos ilumina. Pai das qualidades que nos avisam a voltar por Ti.
            (...) A Ti invoco Deus Verdade, princípio, origem e fonte da verdade de todas as coisas verdadeiras ... Deus que nos converte e nos mostra o que não é, e torna visível o que é.
            (...) Agora só imploro tua nobilíssima clemência para que me converta plenamente a Ti e retire todas as aversões que se oponham a isto, e ao mesmo tempo necessário para o esforço deste corpo, a fim de que se torne puro, magnânimo, justo e prudente, perfeito amante, conhecedor de Tua sabedoria e digno desta habitação. E como habitante merecedor de Teu bem aventurado reino. Amém. (Livro I, Capítulo 1)
            A via mística da subida alma se percebe que é feita pela fé, e a iniciativa é sempre do criador, porque o conhecimento é na verdade a busca pela felicidade, ou seja, a vida “beata” (vida bendita).
Implicações
            As implicações desta teoria de Agostinho nos leva a:
            1º) Entender que a alma humana possui uma luz interior que a possibilita conhecer a verdade não somente em termos subjetivos ou pessoais, mas também de forma objetiva, pois é imagem do criador.
            2º) Atentarmos e colocarmos em prática a realidade que sempre devemos estar prontos para o crescimento, ou seja, sempre procurarmos nosso desenvolvimento como pessoas, e que cada dia é a subida de um degrau de conhecimento, felicidade e alegria. Agostinho vai chamar da via das virtudes: fé, caridade e esperança. Sempre há tempo para mudarmos, crescermos e ainda que percamos algo, isso pode nos preparar para um ganho maior no futuro. Somos imagem do criador. O criador nos ilumina.
            3º) Sintamos sempre esperança ao entendermos que não sabemos de tudo, mas que na vida precisamos uns dos outros,porque afinal não somos ilhas, somos todos frutos de um mesmo criador.

AMATE VERITATEM IN OMNI TEMPUS ET PACEM OMNIBUS PERSEQUATE.
Amai vós a verdade em todo o tempo, e segui vós a paz com todos.
Leituras recomendadas:
            GILSON, Étienne Introdução ao Estudo de Santo Agostinho, tradução: Cristiane Negreiros Abbud Ayoub, 2ª edição, São Paulo: Paulus e Discurso Editorial, 2010.
      GONZALEZ, Justo L. A Era dos Gigantes, São Paulo, Vida Nova: 1980
      GONZALEZ, Justo L. Uma História do Pensamento Cristão, vol 2. De Agostinho às Vésperas da Reforma, Tradução: Paulo Arantes, Vanuza Freire de Mattos.
      MORESCHINI, Claudio História da Filosofia Patrística, Tradução: Orlando Soares Moreira, São Paulo: Loyola, 2008.
KENNY, Anthony Nova História da Filosofia, São Paulo: Loyola, 2008.
AGOSTINHO: Solilóquios, Tradução: Antônio A. Minghetti, São Paulo: Escala, s/data.

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