Avivamento nas Igrejas das Treze Colônias Inglesas na América do Século XVIII

Este é um fragmento da monografia EVANGELIZAÇÃO: UM ESTUDO HISTÓRICO DA CONTRIBUIÇÃO DO MOVIMENTO PURITANO, apresentada em 2003 para a graduação no Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro, orientada por Samuel Ulisses Marinho
O Avivamento[1] do século XVIII

            Para se entender a contribuição do movimento puritano na tarefa de evangelização realizada no mundo de fala inglesa no século XVIII é necessário falar um pouco sobre o ambiente do avivamento ocorrido nesta época.[2] Uma frase importante de Martin N. Dreher relaciona o movimento puritano com avivamentos ou reavivamentos: “Mesmo fragmentado em muitos grupos e seitas, o puritanismo foi sempre origem de reavivamentos.”[3]

            Uma definição de avivamento é dada por John Armstrong: “Avivamento, por definição, é o princípio de vida da igreja. É o poder que traz vida a pecadores mortos, e leva avante a causa de Cristo, com grandes efeitos, tanto na igreja como na cultura ao seu redor.”[4]

            O contexto do avivamento, ocorrido nas colônias inglesas na América do Norte foi o de decadência da moral e da religião, e segundo, Earle E. Cairns, a causa deste declínio foi o “...constante movimento populacional e a sucessão de guerras brutais, e pela tendência em algumas regiões de separar igreja e estado.”[5]

            Dentro deste contexto surgiu o avivamento, que para Williston Walker se chama “Grande Despertamento”, e assim é caracterizado por este historiador:

 

(...)Iniciado num tempo em que os modelos familiares cristãos não demonstravam muita eficácia , ainda tempo de difundido racionalismo[6] e confusão cultural, o Despertamento não apenas levou à tremenda ativação da vida cristã mas ainda  transformou os conceitos sobre a maneira de entrar  nessa vida, e de tal modo que afetou profundamente a maioria das igrejas americanas. (...) Enfatizou a transformadora mudança regenerativa, uma “conversão”, como caminho normal para ingressar na Igreja. A idéia de que a Igreja é um grupo de cristãos  que tiveram experiência de conversão foi por ele grandemente difundida.[7]

 

 

            Este avivamento, com características calvinistas, que privilegiavam o pensamento doutrinário das igrejas de linha reformada, que defendiam a expiação limitada e a eleição incondicional, surgiu com a pregação de Theodore Frelinghuysen nas igrejas reformadas de origem holandesa no ano de 1726. Este trabalho de Frelinhuysen influenciou os pastores Gilbert Tennent e Willian Tennent Jr., ambos presbiterianos[8], que enfatizavam a pregação de uma vida piedosa, a começar pelos próprios ministros (pastores), que deveriam ter uma experiência genuína de conversão e uma vida piedosa como fruto desta conversão.

            C. Gregg Singer fala sobre a preocupação de Gilbert Tennent  no Sínodo de Nova Iorque e Filadélfia acerca da admissão de novos candidatos ao ministério pastoral:

 

(...) Já se ouviram rumores de controvérsias no encontro do Sínodo, em 1734 (...) Tennent apresentara uma proposta pedindo ao Sínodo que tivesse mais cuidado ao admitir candidatos para o ministério, indagando especialmente “pela evidência da graça de Deus neles bem como  por outras qualificações necessárias.”[9]

 

 

            O trabalho dos dois, Gilbert e Willian, foi também influenciado por George Withefield que vindo da Inglaterra fez vários trabalhos de proclamação do evangelho, quando visitou estas colônias no ano de 1739.[10] Maiores detalhes sobre sua vida e ênfases ministeriais serão abordadas em seção própria.

            Outras pessoas que viveram esta época de avivamento, e serão tratados em seções próprias são: Jonathan Edwards, pastor congregacional da Nova Inglaterra, e David Brainerd, que trabalhou entre os índios.

            O avivamento, entre os presbiterianos, também se estendeu para o sul com Samuel Davies (1723- 1761). E ainda, entre os batistas com Shubal Stearns (1706- 1771) e Daniel Marshall, sem mencionar o trabalho do metodismo avivalista incluindo pregadores leigos, já que nessa época o metodismo estava em pleno desenvolvimento.[11]

            Segundo Earle E. Cairns o avivamento caracterizou-se por:

 

(...) alcançar resultados incomuns . Entre 30 e 40 mil pessoas e 150 novas igrejas foram acrescentadas somente na Nova Inglaterra, uma população de 300 mil. Outros milhares passaram a integrar as igrejas das colônias do sul e do centro. Verificou-se um fortalecimento moral nos lares, no trabalho e lazer. Universidades, como Princeton,[12] Columbia, Hampden-Sidney, foram criadas para formar ministros para as muitas congregações  que surgiam.[13]

             Não há uma data para o término deste período de avivamento, porque ele adentra as guerras dos colonos ingleses contra índios e franceses nos anos de 1756 até 1763.[14] Segundo Justo Gonzalez este avivamento trouxe duas conseqüências: a primeira, que foi o pensamento difundido no protestantismo norte-americano da necessidade de “avivamentos periódicos”; a segunda que foi a união das treze colônias num único ideal, que mais tarde levaria à independência no ano de 1776.[15]

            Earle Cairns menciona outra conseqüência deste avivamento:
 

O avivamento cindiu em 1741 os presbiterianos das colônias do centro em dois grupos, que só seriam unidos em 1758. A “Velha Face”, formada por velhos ministros vizinhos da Philadelphia, opunha-se à aprovação e ordenação ao ministério de candidatos não formados, à interferência dos avivalistas em campos determinados e à atitude crítica de muitos avivalistas para com o trabalho dos ministros. “A Nova Face” apoiava o avivamento e dava autorização para que pessoas sem instrução superior mas que mostrassem dons espirituais pudessem cuidar das novas igrejas. Os holandeses reformados de Nova Jersey e os batistas do sul logo se dividiram também, por causa da atitude da igreja diante do avivamento.[16]


            Estas divisões, como foi descrito por Cairns, ocorreram como reação da parte de ambos os grupos, porque para o grupo da “Velha Face” o avivamento estava sendo prejudicial para a Igreja, porque este movimento, segundo este grupo, não produzia obreiros qualificados para a obra de Deus; já o outro grupo avivalista preocupou-se apenas com a escolha de obreiros que tivessem experimentado um “novo nascimento”, como foi visto na preocupação de Gilbert Tennent mencionada acima.

            De maneira geral, este avivamento se caracterizou pela evangelização de toda a cultura do povo das treze colônias nesta época, e ainda motivou o realizar o trabalho missionário; entre os índios, o pressuposto deste trabalho missionário foi o alvo da conversão, como os puritanos entendiam. O zelo nesta tarefa foi evidente.[17]

           


[1] A palavra avivamento, nesta pesquisa, é usada com o mesmo sentido para despertamento e reavivamento.
[2] Autores como E.Evans, e Martin N. Dreher, chamam este período do cristianismo de fala inglesa como reavivamento. Ver EVANS, E. Reavivamentos: sua origem, progresso e realizações, São Paulo, PES, 30p e DREHER, Martin N. A Igreja Latino-Americana no Contexto Mundial, São Leopoldo (RS), Editora Sinodal, 1999, 244p.
[3] DREHER, Martin N. Op.cit., p.118.
[4] ARMSTRONG, John. Avivamento:O Quê e Por quê?, p.2.
[5] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, p.316.
[6] Racionalismo: “Doutrina  que privilegia a razão dentre todas as faculdades humanas, considerando-a como fundamento de todo conhecimento.” JAPIASSÚ, Hilton e Danilo Marcondes. Dicionário Básico de Filosofia, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 3ª Edição Revista  e Ampliada, 1999, p.229.
[7] WALKER, Williston História da Igreja (Vol.2), p.217.
[8] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos , p.316.
[9] SINGER, C. Gregg, Os Irlandeses-Escoceses na América do Norte, In: VV.AA., Calvino e sua influência no mundo ocidental, p.335.
[10] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos , p.316.
[11] Ibidem, p.317.
[12] Onde estudou mais tarde no ano de 1855 o missionário Ashbel Green Simonton que foi o pioneiro da implantação do presbiterianismo no Brasil. FERREIRA, Júlio Andrade. História da Igreja Presbiteriana do Brasil (Vol 1.), São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 2a.edição, 1992, p.20.
[13] CAIRNS, Earle E., O Cristianismo Através dos Séculos, p.317.
[14] Ibidem, p.318.
[15] GONZALEZ, Justo L. Uma história Ilustrada do Cristianismo (Vol.8)- A Era dos Dogmas e das Dúvidas, p.210.
[16] CAIRNS, Earle E., O Cristianismo Através dos Séculos, p.318.
 
[17] SINGER, C. Gregg, Op.cit., p.338.

 

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