A METAFÍSICA DE TOMÁS DE AQUINO
O que Tomás de Aquino definiu como Metafísica?
Como a Metafísica de Tomás de Aquino definiu o ser?
Como Tomás de Aquino definiu a existência de Deus?
Implicações Vivenciais
Quem foi Tomás de Aquino?
Incansável monge e professor de Filosofia e Teologia na Sourbonne na época medieval. Foi metódico, se empenhou em ordenar o saber teológico e moral acumulado na Idade Média, que recebeu através de seus estudos com Alberto Magno. O conhecimento de Tomás não vinha das fontes, porque não conhecia o grego, o hebraico, nem o árabe, mas ainda sim, só conhecendo o latim utilizou os seguintes autores: Eudóxio, Euclides, Hipócrates, Galeno, Ptolomeu, Platão, Aristóteles; e ainda os autores árabes e judeus como: Al Farabi, Avempace, Al Ghazali, Avicena, Avicebrom, Averróis, Israeli; e por fim os escolásticos: Anselmo de Aosta, Bernardo de Claraval e Pedro Lombardo (este último escreveu o mais importante manual de teologia da Idade Média, Sentenças, que foi usado até o fim do século XVI nas universidades; e ainda, construtor da Catedral de Notre-Dame em Paris).
Nascido no castelo de Roccasecca, perto de Aquino (Reino das Duas Sicílias), em 1225, Tomás de Aquino estudou inicialmente sob orientação dos monges beneditinos da Abadia de Montecassino e, em 1244 ingressou na Ordem dos Dominicanos. Um ano depois encontra-se em Paris, onde continuou a formação teológica com Alberto Magno. De 1248 a 1252, permanece em Colônia (atual Alemanha), ainda dedicado aos mesmos estudos, até que volta a Paris e prossegue as atividades universitárias, culminando pela obtenção de doutor em teologia, em 1259. Nesse ano retorna a Itália e leciona em Agnani, Orvieto, Roma e Viterbo. De 1269 a 1272, exerceu em Paris as funções de professor. Retornando à Itália, veio a morrer no convento dos cistercienses de Fossanova, não muito longe de sua cidade natal, no dia 7 de março de 1274, com apenas 49 anos de idade.
Principais obras de Tomás: Comentários Sobre as Sentenças (entre 1253 e 1256) em Paris; Os Princípios e O Ente e a Essência, na mesma época; a Suma Contra os Gentios e as Questões Sobre a Alma, compostas ao que tudo indica, entre 1259 e 1264; Questões Diversas, começadas em 1263; finalmente a Suma Teológica entre 1265 até 1273 que ficou inacabada.
Agora antes de tudo, vamos definir o que é Escolástica, que é o movimento onde Tomás está localizado na História da Filosofia: cobre o século VIII até o século XV, na história está entre Carlos Magno e o renascimento carolíngio e a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453. O nome escolástica se deve às escolas fundadas por Carlos Magno e mantidas pela Igreja, onde se estudava teologia, retórica, gramática, filosofia e música. Nos séculos XI e XII, fundam-se as primeiras universidades, Paris, Bolonha, Oxford e Cambridge. No oriente a primeira foi a universidade do Cairo em 974; os pensadores árabes introduziram no ocidente o pensamento de Aristóteles, com influencia decisiva nas escolas. (BATISTA, 2011, p.75)
A Escolástica passa a valorizar, mais do que a Patrística, o conhecimento racional. Pela sua inteligência o Homem pode chegar a Deus. Através da investigação entre razão e fé, o conhecimento teológico se afirma. (BATISTA, 2011, p. 76)
Desta forma, apresentamos Tomás de Aquino.
O que Tomás de Aquino definiu como Metafísica?
Em comum com Aristóteles, Tomás de Aquino definia a metafísica como filosofia primeira, contudo, de maneira mais particular chamava de ciência divina ou teologia.
Do ponto de vista filosófico, a grandeza especulativa de Tomás de Aquino reside na elaboração de uma metafísica do ser, que assenta, fundamentalmente, numa dupla diferença ontológica: a) a diferença entre os seres (entes) e o ser; b) a diferença, nos seres, entre a essência e o ser (actus essendi). É de fato, mediante o conceito de ser, como atualização plena de todos os atos, por oposição ao conceito extensivo do ser comum – ens commune-, que Tomás de Aquino aborda e resolve os principais problemas filosóficos, tais como: o problema de Deus, do conhecimento, do mundo e do homem. (ROSSET, 2012, p. 93)
Assim, a metafísica de Tomás de Aquino é basicamente Aristotélica, embora com diversos elementos neoplatônicos na origem. Assim, os termos aristotélicos como substância e acidente. Substância é aquilo que existe em si mesmo, e não em outro; um acidente, por outro lado, existe apenas em uma substância. Isto não significa que a substância seja um ser necessário no senso absoluto, existindo em e por si mesma. (GONZALEZ, 2004, p.253)
Portanto, com isso em mente chegamos a ideia do ser em Tomás de Aquino.
Como a Metafísica de Tomás de Aquino definiu o ser?
A metafísica de Tomás de Aquino está assim resumida na ideia de ser que é definida assim: plenitude ilimitada de todas as perfeições, o que há de mais perfeito em todas as coisas. (ROSSET, 2012, p.92).
Conceitos que estão presentes em torno do ser é a ideia de ser como ente (ens), ou seja, o ente é o conceito mais universal de todos, é uma das ideias transcendentais que estão presentes em todas as coisas, sem confundir-se com nenhuma delas. Outros elementos transcendentais: a coisa (res), o aquilo (aliquid), o uno e o bem (unum et bonum), a verdade (o verum) e a beleza (o pulchrum – sendo como forma particular do apetite, apetite aqui é desejo).
Destaco aqui alguns trechos da obra O Ente e a Essência:
Importa saber que, segundo afirma o Filósofo [Aristóteles] no quinto livro da Metafísica, o ente em si mesmo comporta duas acepções: segundo a primeira delas, divide-se em dez categorias, e consoante a segunda designa a verdade das proposições. A diferença desses significados está no fato de que na segunda acepção, pode-se dizer que ente constitui tudo aquilo acerca de que se pode construir uma proposição afirmativa, embora isto nada acrescente a coisa; neste segundo sentido as privações e as negações são consideradas entes, e assim é que dizemos que a afirmação é oposta à negação e que a cegueira está nos olhos. (Capítulo Primeiro, 1)
Uma vez que, conforme acima dissemos, o ente, considerado na primeira acepção, se divide nas dez categorias, necessariamente essência algo de comum a todas as naturezas ... (Capítulo Primeiro, 2)
Assim, pode se dizer que ente significa a substância de alguma coisa e essência é algo de comum a todas as naturezas. Estas definições vão além do processo que Aristóteles realizava para se chegar ao ente e a essência que se constituía de abstrações, já que para Aristóteles o universo era eterno, contudo para Tomás só Deus é eterno, ou seja, é a perfeição. O ser por excelência.
No capítulo segundo pode se dizer que a essência é a soma da matéria e da forma, ou seja, ele reutiliza termos aristotélicos para definir as coisas como são. Relacionando a Aristóteles o ser é a realização plena do ato.
No capítulo quinto: pode ser dito a forma concede a matéria do ser.
Brevemente, termino aqui com esta citação: Assim, pois, deixamos claro como a essência se encontra concretizada nas substâncias e nos acidentes, e de que maneira se encontra nas substâncias compostas e nas substâncias simples. Ficou claro também o modo como as assim chamadas intenções lógicas se encontram neles todos. Excetua-se o ser primeiro [Deus], que reveste simplicidade infinita. N’Ele não cabe o conceito de gênero ou de espécie. Tampouco pode Ele ser definido, em razão de sua simplicidade. Seja Ele a meta e o remate desta nossa exposição.
Por isso, agora devemos nos voltar para a ideia da prova da existência de Deus.
Como Tomás de Aquino definiu a existência de Deus?
Diferentemente de outros escolásticos, como Anselmo de Aosta (conhecido no mundo de fala inglesa como de Cantuária), Tomás deixa a ideia de que a prova da existência de Deus seja algo “auto-evidente”, e assim ele prefere seguir aquilo que é conhecido como Argumento Cosmológico da Existência de Deus, em contraponto ao Argumento Ontológico de Anselmo.
Resumindo este argumento, ele pode ser enunciado assim: 1- Todo efeito, pela sua própria natureza, precisa de uma causa; 2- Todo ser contingente é um efeito; 3- Logo, todo ser contingente é causado; 4- Segue-se portanto, que a causa de todo ser contingente não é contingente, mas sim, necessária (ou seja, Deus)- (GEISLER, 1983, p.231)
O desenvolvimento deste enunciado é conhecido como as Cinco Vias, que se resumem assim: I- o movimento no mundo somente é explicável se houver um primeiro movente imóvel; II- a série de causas eficientes no mundo tem que conduzir a uma causa não causada; III- seres contingentes e corruptíveis têm que depender de um ser independente e incorruptível; IV- os vários graus de realidade e excelência no mundo têm que ser aproximações de um máximo subsistente de realidade e excelência; V- a teleologia [finalidade] ordinária de agentes não conscientes no Universo acarreta a existência de um ordenador universal inteligente. (KENNY, 2008, p.339)
A partir desta argumentação devemos levar em conta que a problemática da existência de Deus é um assunto extremamente racional e filosófico, porque lida com questões da existência humana, ligada a ideais, sonhos, modo de proceder, vida em sociedade, identidade individual e sentido da vida. Neste sentido a filosofia levanta as seguintes perguntas: O que se quer dizer com Deus? Deus Existe? Como Podemos Falar Acerca de Deus? Pois bem, a filosofia já não entra na seguinte questão: Como podemos ter acesso a Deus? Porque aí a religião e a teologia farão a parte delas, porque estão ligadas a ideia de como Deus se revela ao ser humano, e a argumentação já se torna dogmática e axiomática – verdades auto-evidentes e absolutas.
Voltando para Aquino, toda esta argumentação das cinco vias demonstra a influência do neoplatonismo, e com certeza é a influência de Agostinho de Hipona, principalmente na quarta via. E na terceira cabe aqui esclarecer as seguintes ideias de ser necessário e ser contingente: ser contingente é aquele que é possível que exista e também é possível que não exista; de modo que, presumivelmente, um ser necessário é um ser que não é possível que não exista. Um ser necessário existe em todos os mundos possíveis. (PLANTINGA, 2012, p. 98)
Concluindo, esta argumentação esta prova cosmológica foi suscetível de refutações, como por exemplo, do filósofo Kant. Na atualidade o argumento mais consistente é o argumento moral hoje defendido por William Lane Craig. Mas mesmo assim, didaticamente falando é um argumento respeitável e demonstra possibilidades de reflexão bem curiosas e fascinantes.
Implicações Vivenciais
Como tenho proposto sempre as implicações vivenciais de cada reflexão filosófica, tem uma única finalidade: O estudo da filosofia deve contribuir para o melhoramento de nós mesmos como pessoas e nossa utilidade diante da sociedade humana. Como os clássicos: Sócrates, Platão e Aristóteles propunham ou seja, cultivarmos a aretê – virtude.
Assim, estas reflexões de Tomás de Aquino nos levam a estas aplicações para nossa vida:
1- Em nossa vida devemos procurar a excelência, apesar de sermos limitados, nunca devemos limitar nossas potencialidades para coisas mesquinhas mas devemos pensar no perfeito, para que a esperança cresça em nós e evitemos injustiças, porque só o perfeito nos dá a dimensão real da justiça;
2- Devemos atentar em cultivarmos virtudes que valorizem o que somos, não o que possuímos, pois se valorizarmos mais o que possuímos estaremos constantemente mentindo para nosso próximo e a nós mesmos principalmente, porque sendo o ser a plena realização do ato, então não negociemos o que somos: O que somos é nosso caráter virtuoso de amar o nosso próximo e a nós mesmos.
AMATE VERITATEM IN OMNI TEMPUS ET PACEM OMNIBUS PERSEQUATE.
Amai vós a verdade em todo o tempo, e segui vós a paz com todos.
LEITURAS RECOMENDADAS:
STO. TOMÁS E DANTE Vida e Obra, São Paulo: Nova Cultural,
1988.
BATISTA, William Memória da Ausência – os séculos de
elaboração do discurso sobre o mistério, Rio de Janeiro: Letra Capital,
2011.
GEISLER, Norman & Paul
D. Feinberg Introdução a Filosofia, uma
perspectiva cristã, Tradução: Gordon Chown, São Paulo Vida Nova, 1983.
GILSON, Étienne Por que São Tomás Criticou Santo Agostinho?/
Avicena e o Ponto de Partida de Duns Scotus, tradução: Tiago José Risi
Leme. São Paulo: Paulus, 2010.
GONZALEZ, Justo L. Uma
História do Pensamento Cristão, vol 2. De Agostinho às Vésperas da
Reforma, Tradução: Paulo Arantes, Vanuza Freire de Mattos. São Paulo:
Cultura Cristã, 2004.
KENNY, Anthony Nova
História da Filosofia, São Paulo: Loyola, 2008.
PLANTINGA, Alvin Deus, a Liberdade e o Mal tradução:
Desidério Murcho, São Paulo:Edições vida Nova, 2012
ROSSET, Luciano & Roque
Frangiotti Metafísica: Antiga e Medieval,
São Paulo: Paulus, 2012.
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