Falando de Teologia parte 8 (Os Atributos Incomunicáveis de Deus)
Os atributos incomunicáveis de Deus se resumem na ideia de Deus como “ser absoluto”. Na metafísica a expressão “o absoluto” é um designativo do fundamento último de toda existência; e, uma vez que o teísta fala também de Deus como o fundamento último de toda existência, às vezes se pensa que o Absoluto da filosofia e o Deus do teísmo são um só e o mesmo Ser. Não necessariamente, porém. (…) quando o Absoluto é definido como a Causa Primeira de todas as coisas existentes, ou como o fundamento último de toda a realidade, ou como o único Ser auto-existente, pode ser considerado idêntico ao Deus da teologia. (BERKHOF, Teologia Sistemática, 1990, p.60)
A expressão de Deus como ser absoluto se enuncia nestes atributos: auto-existência, imutabilidade, infinidade e unidade.
A auto-existência: significa que Deus tem em Si mesmo a base de Sua existência. Às vezes esta ideia é expressa dizendo-se que Ele é a “causa sui” (a Sua própria causa), mas não se pode considerar exata esta expressão, desde que Deus é o não causado, que existe pela necessidade do Seu próprio Ser e, portanto, necessariamente. (BERKHOF, 1990, p.61) O significado envolve então, a realidade de Deus ser independente de Suas criaturas em seus decretos, virtudes e obras.
O fundamento da independência de Deus está neste versículo: Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo; (Jo 5:26). Outros versículos trazem a ideia de independência em que as coisas só existem por meio de Deus (Sl 94.8s; Is 40:18s; At 7:25); e ainda, em que Deus é independente em Seus pensamentos (Rm 11:33,34), e em Sua vontade (Dn 4:35; Rm 9:19; Ef 1:5; Ap 4:11), em Seu poder (Sl 115:3), e em Seu conselho (Sl 33:11).
A Imutabilidade: É a perfeição pela qual não há mudança nele, não somente em Seu Ser, mas também em Suas perfeições, em Seus propósitos e em suas promessas. (BERKHOF, 1990, p.61). Este é um atributo que traz conforto para o que crê, porque se Deus agisse conforme as atitudes e pecados da humanidade, com certeza, Ele já teria destruído a toda a humanidade; contudo Sua imutabilidade demonstra Sua imensidão e eternidade, como observou Hodge. (HODGE, Teologia Sistemática, 2000, p.294).
Assim Deus é absolutamente imutável em sua essência e atributos. Ele não pode aumentar e nem diminuir. Não está sujeito a nenhum processo de desenvolvimento, nem de evolução do ego. Seu conhecimento e poder nunca podem ser maiores e nem menores. Ele nunca poder ser mais sábio ou mais santo, nem mais justo ou mais misericordioso do que sempre foi e sempre será. Ele não é menos imutável em seus planos e propósitos . (HODGE, 2000, p.294)
Muitas pessoas se aproveitam da ideia de imutabilidade para não orarem a Deus, considerando que se a vontade de Deus não muda, para quê orar? Contudo, o mesmo Deus nos ordena a orar para exercitarmos a fé, e a oração ela faz o seguinte: nos ajusta a perfeita, justa, agradável e boa vontade Deus. (DAGG, Manual de Teologia, 1989, p.49)
Agora chega-se a seguinte pergunta: Deus se arrepende? Os textos seguintes dizem não: Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação. (Tg 1:17); Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria? (Nm 23:19); Porque eu, o Senhor não mudo” (Ml 3:6); O conselho do SENHOR permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração. (Sl 33:11); Muitos propósitos há no coração do homem, porém o conselho do SENHOR permanecerá. (Pv 19:21); O SENHOR dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. (Is 14:24) Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade. (Is 46:9-10). Quanto à passagem de Gn 6 esta a ideia de arrependimento significa no original hebraico nacham (leia-se nakrram) traz a ideia de “respirar profundamente”, e por conseguinte, manifestação física de sentimentos de tristeza ou pena (HARRIS, ARCHER, WALTKE, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, 1998, p.951), isto quer dizer, quenão tem nada a ver com mudança ou falha da parte de Deus. E mesmo, no caso de Ezequias (Is 38:4-5) este texto se aplica aquilo que Deus não pode fazer: voltar a sua promessa de ouvir a oração de um coração quebrantado (Sl 51:17).
A Infinidade de Deus: é a perfeição de Deus pela qual Ele é isento de toda e qualquer limitação. Ao atribuí-la a Deus, negamos que haja ou que possa haver quaisquer limitações do Ser divino e dos Seus atributos. (BERKHOF, 1990, p.62).
Falar que Deus é infinito envolve a descrição de 3 elementos: perfeição absoluta, eternidade, imensidade.
Primeiro: a perfeição absoluta, demonstra que Deus tanto num sentido quantitativo, quanto qualitativo é perfeito; porque o poder absoluto é sem limites e sua santidade também. Veja os textos: Jó 11:7-10; Sl 145:3; Mt 5:48.
Segundo: a eternidade, é a perfeição de Deus pela qual Ele é elevado, acima de todos os limites temporais e de toda sucessão de momentos, e tem a totalidade da Sua existência num único presente indivisível. (BERKHOF, 1990, p.63) Este aspecto da infinidade de Deus demonstra a ideia de Alfa e Ômega, aquele que É, que Era e Há de vir, veja os seguintes textos: Sl 90:2; 102:12; Ef 3:21.
Terceiro: a imensidade, é a perfeição do Ser Divino pela qual Ele transcende todas as limitações espaciais e, contudo, está presente em todos os pontos do espaço com todo o Seu Ser. (BERKHOF, 1990, p.63) Esta ideia envolve onipresença, sendo que a diferença entre imensidade e onipresença é esta: imensidade envolve Deus transcender todo o espaço e não está sujeito às limitações dele; e a onipresença diz que o Senhor preenche todas as partes do espaço com Seu ser, lembrando que Ele sempre será diferente de Suas criaturas. (Veja 1 Rs 8:27; Is 66:1; At 7:48-49; Sl 139:7-10; Jr 23:23,24; At 17:27,28)
A unidade de Deus: significa que Deus é um só. No sentido de não ser dividido em sua essência. Em termos metafísicos essência é quididade, que vem da pergunta em latim: quid? (que coisa é?), ou seja equivale a determinação. Toda coisa é o que é, tem sua quididade enquanto é determinação do ser. (MOLINARO, Léxico de Metafísica, 2000, p.113)
O argumento mais satisfatório [para provar a unidade de Deus] deriva-se da uniformidade de planejamento conforme se vê nas obras da criação. As mesmas leis da natureza prevalecem por toda a parte... (DAGG, 1989, p.40)
Assim, como há um só governo moral divino, e a unidade que Deus proclama em Sua Palavra com relação a Seu povo, temos assim um só, um corpo e um Espírito (Ef 4:4,6); veja também: Dt 6:4; Sl 86:10; Mc 12:29,32; Jo 17:3; Gl 3:20; 1 Tm 2:5; Tg 2:19).
Concluindo, ao estudarmos estes atributos incomunicáveis, percebemos que nosso Deus de fato transcende nossas expectativas, e que de fato, devemos ter temor e tremor ao serví-lo, e que ao mesmo tempo Ele nunca falhará para conosco.
Em nossa próxima reflexão trataremos dos atributos comunicáveis a saber: espiritualidade, conhecimento, sabedoria, veracidade, bondade (amor, graça, misericórdia, longanimidade), santidade, justiça, soberania.
Deus abençoe.
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