Sobre a Filosofia da Educação


 
Aspectos da Teoria Educacional

            Arruda Aranha define assim a Filosofia da Educação: Reflexão sobre a educação e a pedagogia. Investiga o ser humano que se quer formar, os valores emergentes que contrapõem a outros, já decadentes, e os pressupostos do conhecimento subjacentes aos métodos e procedimentos utilizados. (2006, p. 25)

            Dentro do rigor e do conjunto do trabalho filosófico em realizar reflexões, a educação se torna objeto do filósofo para o pensar crítico da ação pedagógica. De modo que promova a passagem de “uma educação guiada pelo senso comum [sem metodologia científica] para uma educação sistematizada (levada ao nível da consciência filosófica)” (ARRUDA ARANHA, 2006, p.25)

            Cabe ao filósofo, examinar a concepção de humanidade, que orienta a ação pedagógica, para que não se eduque a partir da noção abstrata e atemporal de “criança em si”, de “ser humano em si” , tal como a que persistiu na concepção essencialista da educação.[1] Por isso o filósofo da educação deve avaliar currículos, as técnicas e os métodos para julgar se são adequados ou não para os fins propostos sem cair no tecnicismo[2]. A filosofia tem a função de interdisciplinaridade, pela qual estabelece a ligação entre as diversas ciências e técnicas que auxiliam a pedagogia[3], logo a filosofia serve como filtro para se evitar os riscos da preponderância de determinadas ciências no lugar de outras para explicação dos fenômenos pedagógicos.

            A proposta de trabalho envolve trabalhar a teoria de conhecimento (epistemologia), e diferentes teorias educacionais do século XX (liberais, histórico-sociais, o chamado pós-modernismo[4]).

Epistemologia

            Quando falamos em conhecimento podemos designar não só o ato de conhecer como uma relação que se estabelece entre a consciência que conhece o objeto conhecido, mas também o produto do conhecimento, o resultado desse ato, ou seja, o saber adquirido e acumulado.  Dentro da História da Filosofia, o estudo sistemático do conhecimento se deu a partir do período moderno com o racionalismo e o empirismo.[5]

            Inatismo e Empirismo: Uma pergunta é levantada: De onde vêm nossas ideias? Estas respostas encontram-se nas teorias do inatismo e do próprio empirismo. O inatismo é o representante do racionalismo, que a partir da premissa cogito, ergo sum (penso, logo existo), diz que através de uma série de intuições , o filósofo descobre ideias claras e distintas, ideias gerais que não derivam da experiência, mas já se encontram no espírito humano, como ideias inatas, isto é, que já nascem com o sujeito. Esta teoria afirma que o critério seguro para o conhecimento verdadeiro está em nosso espírito[6]. O empirismo, por outro lado, critica o inatismo afirmando que a alma é como uma tábula rasa (quadro branco), uma tábua sem inscrições, uma cera na qual não há nenhuma impressão, porque o conhecimento só começa após a experiência. Segundo, John Locke há duas fontes possíveis para nossas ideias: a sensação e a reflexão. A sensação é o resultado da modificação feita na mente por meio dos sentidos, enquanto a reflexão é a percepção que a alma tem daquilo que nela ocorre. Nas duas teorias não há exclusão de possibilidades, mas sim que no inatismo a experiência sensível é a do conhecimento, sempre sujeita a enganos; já o empirismo subordina a razão ao trabalho anterior da experiência. (ARRUDA ARANHA, 2006, pp. 160, 161).

Naturalismo e Positivismo: Outra corrente epistemológica é a naturalista (influenciada pelo inatismo e pelo empirismo) que representa a tentativa de emprestar o rigor do método experimental e da matematização, típicos das ciências da natureza, à análise dos fenômenos humanos em ciências como a sociologia, a psicologia, e a economia. Sendo que o naturalismo foi influenciado pelo positivismo que representa a negação do conhecimento religioso e metafísico valorizando o conhecimento científico. Assim o sociólogo Durkheim partiu do pressuposto de que os fatos sociais devem ser observados como coisas. Cabe mencionar que deste ponto em diante a psicologia começou a formar teorias acerca desta relação ser humano e conhecimento, como: a teoria de Wundt acerca da percepção visual como parâmetro de estudo para os fenômenos psíquicos; o behaviorismo ou psicologia comportamentalista que segundo a teoria associacionista a aprendizagem se faz quando associamos dois estímulos, em que um deles funciona como reforçador (positivo ou aversivo) de determinada resposta, os representantes: Pavlov, Watson, Skinner. Sendo que Skinner aperfeiçoou o estudo do comportamento humano a ponto de criar o método de instrução programada, na qual o texto é composto de níveis crescentes de dificuldade, com uma série de espaços em branco, que devem ser preenchidos pelo aluno. (ARRUDA ARANHA, 2006, p. 162)

            Superação do inatismo e do empirismo: Segundo as tendências contemporâneas, tanto o inatismo (ou apriorismo) quanto o empirismo são insuficientes para explicar a complexidade do ato cognitivo (aprender, conhecer), esbarrando várias vezes em problemas insolúveis. Como inatismo que não consegue explicar as mudanças no tempo e no espaço, porque o pressuposto desta teoria é a atemporalidade permanente das ideias. Já no empirismo é visto que ideia central da experiência objetiva não sabe explicar que sensações individuais de cunho particular e subjetivo pode nos levar ao conhecimento geral, ou seja, se a razão individual não pode conhecer a realidade, portanto tudo é relativo, então o ceticismo[7] prevalece.

            Para superar estes dois paradigmas foram feitos esforços posteriores por teóricos como Leibniz e Kant no século XVIII, Hegel e Marx no século XIX, e no século XX por Husserl e Merleau-Ponty. Sendo que nosso trabalho não detalhará as teorias deles.[8] Assim, o conhecimento passou a estar relacionado a conceitos da visão do ser humano a partir de sua historicidade e envolvimento social, teoria e prática, sujeito e objeto de estudo, e o determinismo e a liberdade. (ARRUDA ARANHA, 2006, p. 164)

            Em termos do relacionamento entre epistemologia e práxis (prática) pedagógica podemos dizer que exemplos práticos do pensamento inatista são: O bom professor é capaz de despertar no aluno o gosto pelo estudo; e: O professor deve desenvolver as potencialidades que todo aluno tem. Já do pensamento empirista temos: É importante que o professor saiba transmitir bem o conhecimento acumulado na cultura a que pertence; o aluno precisa estudar bastante, treinado o suficiente para fixar o que aprendeu; o esforço do professor é irrelevante diante de alunos carentes, mal alimentados, vindos de famílias sem tradição cultural; o professor deve premiar quem trabalha bem e punir com nota baixa quem não se esforça. Um pensamento de superação seria este: O professor precisa saber qual é o estágio de desenvolvimento intelectual do aluno com o qual vai trabalhar, a fim de criar situações para que ele aprenda por si próprio.

            Assim, as diferentes pedagogias dentro da filosofia da educação lidam com estas questões epistemológicas, portanto nosso foco se encontra nas pedagogias do século XX.




[1] Enfoque educacional herdado da filosofia grega, a partir da metafísica que acentuava a atitude teórica de análise de conceitos universais. Assim educar seria desenvolver as potencialidades da natureza humana, fazendo cada um tender para a perfeição, para aquilo que pode vir a ser. (ARRUDA ARANHA, 2006, p. 151)
[2] Teoria pedagógica que privilegia a instrumentalização do professor , adaptando a atividade educativa às técnicas empresariais que visam à racionalidade, à organização e a eficácia. É de origem norte-americana.
[3] Pedagogia: [Do grego: pais (pais), paidos (paidós), “criança”, e agwgh (agogé) “estilo de vida”, “conduta”, “comportamento”] Teoria geral da educação. Pedagogia é ciência que tem por fim específico o estudo e a compreensão da práxis educativa, com vistas à organização de meios e processos educativos de uma sociedade. (Maria Amélia Santoro Franco)
[4] Pós-modernismo: dentro de diferentes setores das ciências humanas, principalmente a História, Sociologia, Filosofia não definem bem a existência deste movimento. Entretanto, os estruturalistas e pós-estruturalistas Lyotard, Derrida, Foucault, Habermas, Baudrillard e Jameson tem a tese de que qualquer compreensão ou expressão da realidade é relativa e, portanto, é preferível que experimentemos a vida em termos de “ecletismo” ou como uma colagem de compreensões e expressões. (AZEVEDO, Marcos Antônio Farias de  Teologia Contemporânea – Apostila de aulas do Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Autor, 2003, p.16)
[5] Racionalismo acredita que o conhecimento da realidade provém da razão. E o empirismo vê o conhecimento da realidade através da experiência (uma experiência verificável e comprovável). O racionalismo teve seu maior representante em Descartes, o empirismo em Locke e Hume.
[6] A visão de Descartes acerca do ser humano é dicotômica. Alma e espírito são sinônimos para uma mesma realidade.
[7] Ceticismo:  Doutrina segundo a qual o espírito humano nada pode conhecer com certeza; conclui pela suspensão do juízo e pela dúvida permanente.
[8] Vejam Leibniz no seguinte artigo: Kriterion: Revista de Filosofia – Contingência  e análise infinita em Leibniz, link: <http://scielo.br/scielo.php?pid=S0100-512X2001000200004&script=sci_arttext > ; Kant no artigo:  Educação e Pesquisa – A educação na ética kantiana, link: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-970220040000300005>; leia Hegel em: Revista: Interface: comunicação,saúde e educação -O conceito de educação em Hegel <www.scielo.br/pdf/icse/v5n9/05.pdf‎> ; leia Marx em: Revista: Interface: comunicação, saúde, educação – A educação na perspectiva marxista: uma abordagem baseada em Marx e Gramsci <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832008000300014>;  leia Husserl em Revista: Transformação- A percepção do tempo em Husserl, link: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-31731990000100005&script=sci_arttext>;  leia Merleau- Ponty em: Educação em Revista- Individuação, percepção, ambiente: Merleau-Ponty e Gilbert Simondon,link: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-46982009000300013&script=sci_arttext>.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Oração na vida dos reformadores 1

12 princípios do evangelismo segundo David Bosch parte 1

Os Puritanos nas colônias inglesas da América do Norte no século XVII