Mais um ensaio de Filosofia - A ideia de imortalidade em Hegel


 
 

Paul Tillich descreve a concepção de Hegel sobre a imortalidade da seguinte forma: Nós participamos na vida divina como indivíduos por meio do processo histórico, e só participamos na vida divina, na medida em que participamos neste processo. (TILLICH, Paul Perspectivas da Teologia Protestante nos Séculos XIX e XX, 2ª. edição,São Paulo:ASTE, 1999, p. 151) O conceito de vida eterna está em oposição ao de imortalidade porque esta última é atributo exclusivo de Deus, que está condicionada ao mito bíblico do comer da árvore da vida.

            Assim, a ideia do processo histórico sempre está condicionada ao “princípio da negatividade” , o constante processo da vida que sai de si e retorna para si, ou seja, constante transformação. Por isso, em Hegel a filosofia da história é fundamental, porque a história é o campo onde se realizam as potencialidades das essências eternas, contudo nunca para os indivíduos isoladamente. Daí, a história se processa indo da potencialidade para outras ideias levadas por grupos sociais, nações e Estados. Assim, cada nação e cada grupo cultural tem seu próprio tempo para realizar ideias eternas particulares, no tempo e no espaço, segundo a lógica de Hegel. (TILLICH, 1999, p. 149)

            O verdadeiro é o todo. Mas o todo é somente a essência que atinge a completitude por meio do seu desenvolvimento. Deve-se dizer do Absoluto que ele é essencialmente resultado e que é o que na verdade é, apenas o fim. Nisto consiste justamente sua natureza: ser algo efetivo, sujeito ou devir-de-si-mesmo. Por contraditório que pareça conceber o Absoluto essencialmente como resultado, basta no entanto uma pequena reflexão para reduzir a nada essa aparência de contradição. O começo, o princípio ou o Absoluto, tal como é enunciado primeira e imediatamente, é somente o universal. Se digo todos os animais, essa expressão tem pouco valor na Zoologia. Do mesmo modo as palavras do divino, do absoluto, do eterno etc., não podem exprimir o que nelas está contido; e, na realidade, tais palavras exprimem apenas a intuição como algo imediato. Aquilo que é mais do que uma palavra deste tipo, a passagem, mesmo que seja apenas a uma proposição, contém um tornar-se outro que deve ser retomado e é uma mediação. No entanto, é essa mediação que se constitui em objeto de horror como se, ao usá-la para algo mais do que para afirmar que ela nada é de absoluto e não tem lugar no Absoluto, se abandonasse o conhecimento absoluto. (HEGEL, Fenomenologia do Espírito)

            Metafísica envolve o explicar a realidade e é justamente o que Hegel faz quando dialoga com os conceitos de: verdadeiro, Absoluto, mediação, passagem; portanto tudo isto envolve movimento em direção ao Absoluto (Deus ou pensamento puro). Assim, chegar ao todo é desenvolvimento. Contudo, a ideia de absoluto é de distanciamento . em que o espírito divino está presente na natureza mas distante da mesma. (TILLICH, 1999, p. 141)

            Concluindo, pensar no tópico imortalidade para Hegel aumenta a ideia de que a natureza humana individual permanece distante do Absoluto, visto que a eternidade só é possível ao ser humano quando este participa coletivamente no processo histórico de passagem de potencialidade para ato, portanto o divino sempre será transcendente para o ser humano individual. O resultado do processo chama-se síntese.

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