Ensaio de filosofia e teologia: A capacidade de conhecer




Descartes e Locke defendiam pontos de vista diferentes acerca da capacidade de conhecer. Descartes acreditava que as ideias eram inatas ao ser humano, isso se convencionou chamar de inatismo ou apriorismo. Já Locke acreditava que o ser humano para conhecer precisa de um estímulo exterior, a experiência, o que foi chamado de empirismo, porque nesta forma de enunciado epistemológico o ser humano é visto como uma "tábula rasa" que precisa sempre de ser um receptáculo de informações.
Olhando a epistemologia sob o ponto de vista teológico, a situação muda porque a base para a reflexão para este assunto está subordinado, segundo a teologia de Calvino, e ainda mais, a teologia de Clemente de Alexandria ao conhecimento de si mesmo que leva ao conhecimento de Deus. Entretanto, o ser humano por estar sob os efeitos do pecado original, está com esse conhecimento obscurecido, debilitado, limitado. O pecado original não se refere meramente ao "comer a fruta", ou como uns pensam que seja o sexo, e sim a desobediência que o ser humano cometeu contra sua natureza original que tinha a função de adorar seu criador e servi-lo incondicionalmente.
Os efeitos dele se demonstram na tendência do ser humano já na infância ter comportamento de desobediência, de agressão, mentira, roubo; logo, o ser humano precisa ser educado para ser restaurado nele a imagem de perfeição quando não tinha sido afetado por esta transgressão do princípio. Este pensamento acerca do pecado original pode dar margem para uma forma de pensar apriorista, diferentemente de uma ideia de reminiscência platônica duma pré-existência da alma.
Ser uma "tábula rasa" leva a pensarmos nas experiências objetivas na vida do ser humano, a capacidade dele de transmitir descobertas, repassar experiências, perpetrar o patrimônio cognitivo. Deixar de lado o pecado original, e por em proeminência  o ser humano como agente moral, mesmo porque está vivo e constantemente produz relações sociais.
A realidade é conhecida de várias formas seja pelo chamado "senso comum", pela "reflexão filosófica", pelo "conhecimento religioso", e pelo "conhecimento científico". Jurgen Habermas chama o conhecimento científico de "razão instrumental", e as demais de "razão comunicativa". No campo teológico o ser humano segundo o empirismo é preciso de uma fonte segura fora dele mesmo para aprender: algo objetivo, algo não subjetivo, mas firme e imutável para que o indivíduo saia de seu estado de falta de conhecimento verossímil, esta fonte são as Escrituras. Por isso, o teólogo Hodge chama a teologia de ciência objetiva. As Escrituras são patrimônio da religião natural, o conhecimento histórico acumulado pelos homens e seguro para a constituição de uma Estado livre e governado pelo consenso social. As Escrituras segundo Calvino são um dom precioso de Deus para o ser humano de fato conhecer a si mesmo e a Deus, porque segundo este teólogo o ser humano por estar envolto a influência do pecado original está "pronto a esquecer-se de Deus e ansioso para imaginar religiões novas e falsas".
“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, a verdade em grego a partir do pensamento filosófico significa revelação, literalmente , “tirar o véu”. Portanto, do ponto de vista teológico, conhecer implica verdadeiramente em libertar o ser humano de suas limitações (pensamento apriorista), e preencher a “tábula rasa” (empirismo). Revelar então de fato, desafia o ser humano ao retorno a seu estado original de retidão e não mais estar preso às influências do pecado original. E como ser moral ser educado na Palavra de Deus pois: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça;”
 
Concluindo, conhecer é algo do ser humano que tanto envolve a experiência externa, quanto a capacidade da alma através da razão apreender a realidade.

 

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