CONTRA A CONFISSÃO POSITIVA
Há realmente poder em nossas
palavras?
Há alguns dias entrei numa livraria evangélica. Olhando as
novidades, vi, estupefato, que as obras que estavam à vista eram aquelas que
falavam sobre o poder inerente da língua. Como: “Há poder em suas palavras”,
“Zoe: a própria vida de Deus”, “A sua saúde depende do que você fala”, etc.
Conversando com a atendente perguntei-la sobre os livros que
estavam mais escondidos, como por exemplo, os livros de teologia, de
referências, de história da Igreja, etc. Ela respondeu-me que são livros que
não sai das estantes, a não ser que algum pastor, professor ou seminaristas
venham a adquiri-los. E disse-me que mais de 90% das pessoas que freqüentam a
livraria só compram livros dessa “nova teologia”.
É lamentável que isto seja um reflexo da falta de conhecimento da
Igreja hodierna. As pessoas não querem mais pesquisar a fundo o que se vende ou
se escuta por ai. Só querem bênçãos, sem se importar com o abençoador. Querem
as coisas de Deus, embora não pensem em conhecê-Lo. Buscam o pão da terra, mas
rejeitam o pão do céu. Nestas poucas linhas tentarei demonstrar que apesar de
estar impregnada na Igreja como um todo, a confissão positiva é uma falha grave
da chamada “teologia moderna”.
O que é o Movimento
do Pensamento Positivo? É a crença em que o pensamento de uma
pessoa é o fator primordial em relação a suas circunstâncias. Só em ter
pensamentos positivos todas as influências e circunstâncias negativas serão
vencidas.
E o Movimento
de Confissão Positiva? É a versão cristianizada do pensamento
positivo que essencialmente substitui a fé em Deus pela habilidade de ter fé em
si mesmo. O simples fato de confessar positivamente o que se crê faz com que o
desejo confessado aconteça. (1)
O verbo decretar está sendo conjugado dia-a-dia pelas mais
variadas denominações. Não são poucas as pessoas que usam o jargão evangélico:
“Tá decretado!” Não faz muito tempo às famosas frases de efeito no meio
evangélico eram outras bem menos danosas para a fé cristã, como, por exemplo:
“O sangue de Cristo tem poder” – nem sempre usada no contexto correto –, “Tá
amarrado!” etc.
Mas, qual o motivo da frase “tá decretado” – e suas variações –
estar errada? Não temos que reivindicar os nossos direitos junto ao Pai? Não
somos filhos do Rei? As nossas palavras não possuem poder?
Para responder, sinceramente, a estas e outras perguntas, gostaria
de dar algumas explicações do por quê não creio na assim chamada “confissão
positiva”.
Devemos também lembrar-nos de que o termo “decreto” pertence
somente ao Senhor de Toda Glória, como bem falou Rubens Cartaxo Junior: “ Os
Decretos eternos de Deus é exclusivo de Sua pessoa o qual fez desde a
Eternidade - Sl
33.11; Is 14.26-27; 46.9-10; Dn 4.34-35; Mt 10.29-30; Lc 22.22; At 2.23;
4.27-28; 17.26; Rm 4.18; 8.18-30; I Co 2.7; Ef 1.11; 2.10; II Tm 1.8-9; I Pe
1.18-20. Estes textos demonstram que Deus tem um propósito, ou um plano, para o
Universo que criou. Este plano existe antes da
criação. É um plano sábio, de acordo com o conselho de Deus. Ninguém pode
anulá-lo, pois é Eterno”. (2)
A “confissão positiva” é parte da “teologia da prosperidade”, tão
divulgada e recebida pela Igreja brasileira. Esta doutrina vem sendo divulgada
há alguns anos no Brasil, especialmente por R. R. Soares que é o responsável
pela divulgação dos livros de Kenneth E. Hagin, principal expositor desta
doutrina. Hagin diz que recebeu a fórmula da fé diretamente de Jesus, e mandou
escrever de 1 a 4 esta “fórmula”. Com ela, diz, pode-se conseguir tudo.
Consiste em:
(1) "Diga
a coisa" , positiva ou negativamente, tudo depende do
indivíduo.
(2) "Faça
a coisa" , o que nós fazemos irá determinar a nossa
vitória.
(3) "Receba
a coisa", a fé irá dinamizar a ação e Deus tem que
responder, pois está preso a “leis espirituais”.
(4) "Conte
a coisa", para que outras pessoas possam crer.
Deve-se usar palavras como: decretar, exigir, reivindicar, declarar,
determinar, e não se pode pedir “se for da tua vontade”, pois isso destrói a
fé.
Não são poucos os líderes que adotam e pregam essa doutrina. Como disse o
próprio R. R. Soares em uma entrevista para a Revista Eclésia, quando
perguntado se ele era adepto da teologia da prosperidade, ele respondeu:
“...Agora, eu prego a prosperidade. Prefiro mil vezes pregar
teologia chamada da prosperidade do que teologia do pecado, da mentira, da
derrota, do sofrimento... A teologia da prosperidade, pelo que se fala por aí,
eu bato palmas. Não creio na miséria. Essa história é conversa de derrotados. São
tudo um bando de fracassados, cujas igrejas são um verdadeiro fracasso”. (3)
Para muitos, ganhar e ter dinheiro viraram sinônimos de vitória. E
o que mais nos impressiona é a suposta “base bíblica” para defender seus
devaneios. Um exemplo clássico é o texto de Filipenses 4:13 – que virou um moto
na boca dos cristãos hodiernos – que diz: “Posso todas as coisas em Cristo que me
fortalece” . Só que os adeptos da teologia da prosperidade
ignoram por completo o contexto da passagem. Veja o que diz os versos 11 e
12: “Não digo
isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho.
Sei estar abatido, e sei também ter em abundância; em toda a maneira, e em
todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a
ter abundância, como a padecer necessidade”.
Em outras palavras Paulo diz-nos que poderia passar por qualquer
situação – fome, abatimento, necessidade, ter de tudo e não ter nada – pelo
simples fato de que a sua força, em momentos de tribulação ou não, era Jesus Cristo.
Esse movimento pensa que a língua e a mente têm um poder que pode
criar as circunstâncias ao nosso redor. Não é mais do que uma “parapsicologia
evangélica”. Muitas das coisas que os “doutores da fé” dizem são clones dos
ensinamentos do poder da mente, muito explorado pelo Dr. Joseph Murphy anos
atrás. Ele escreveu alguns livros como: “Como usar as leis da mente”,
“Conversando com Deus”, “As grandes verdades da Bíblia”, “A magia do poder
extra-sensorial”, “O poder do subconsciente”, dentre outros.
Vou apenas citar um trecho do livro “A paz interior”, do Dr.
Murphy para vermos que se parece muito com os “doutores da fé”. Comentando João
1:5-7 ele diz: “As
trevas referem-se à ignorância ou falta de conhecimento da maneira como a mente
funciona. Estamos nas trevas quando não sabemos que somos o que pensamos e
sentimos. O homem está num estado condicionado do Não-condicionado, com todas as qualidades,
atributos e potenciais de Deus . O homem está aqui para
descobrir quem é. Não é um autônomo. Tem a capacidade de pensar de duas maneiras:
positivamente e negativamente . Quando começa a descobrir que
o bem e o mal que experimenta são decorrentes exclusivamente da ação de sua própria mente,
começa a despertar do senso de escravidão e limitação ao mundo exterior. Sem
conhecer as leis
da mente ,
o homem não sabe como produzir seu desejo”.
(4) (grifo
nosso)
Vejamos ainda o que Jorge Linhares diz em seu livro: “Bênção e
Maldição”, onde mostra um Deus dependente do homem, este é o Evangelho da
Confissão Positiva e do Evangelho da Maldição – “Palavras produzem bênção... [ou] maldição...
Palavras negativas... dão lugar a opressão demoníaca... ...Palavras positivas
(confissão positiva), amorosas, de fé, de confiança em Deus, liberam o poder
divino para desfazer a opressão...” (5)
SUPOSTA BASE BÍBLICA DA CONFISSÃO POSITIVA
Existem algumas supostas bases bíblicas que os defensores da
confissão Positiva usam para defender esta doutrina, vamos dar apenas três
passagens para não tomar muito tempo, no entanto, as demais passagens seguem
basicamente esta linha de interpretação.
Marcos 11:22-23 – “E
Jesus, respondendo, disse-lhe: Tende fé em Deus; Porque em verdade vos digo que
qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em
seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será
feito”.
Os defensores apregoam que o verso acima ensina que devemos ter a
fé de Deus, ou seja, a confissão que gera as coisas. Declarar a existência de
coisas que do nada virão a existir, podendo assim criar a realidade que
quisermos.
O Pr. Jorge Issao Noda explica muito bem esta passagem em seu
livro: “Somos deuses?”, ele diz; “Copeland
editou uma Bíblia de referência onde este texto tem uma leitura alternativa:
‘Tende a fé de Deus'. Capps, Price, Hagin, são unânimes nesta interpretação.
Hagin afirma, inclusive, que ela está de acordo com a visão dos eruditos em
grego. O texto diz: echete (tende) pistin (fé) theou (de Deus). De Deus? Então
Deus tem fé! Sendo assim, os mestres da Fé têm razão. Os cristãos, através dos
séculos, estiveram interpretando erroneamente este texto. Xeque-mate? De
maneira nenhuma. Robertson, um dos maiores eruditos em grego, afirma que o
texto deve ser traduzido para ‘tende fé em Deus' porque se trata de um genitivo
objetivo. Neste caso Deus não é o sujeito da fé (fé de Deus), mas o objeto da
fé (fé em Deus). Os eruditos em grego maciçamente concordam com Robertson,
contrariando a afirmação de Hagin”. (6)
Temos que ter fé em Deus, essa nossa fé em Deus é que faz com que
os montes que enfrentamos a cada dia sejam superados, não pelo poder inerente a
fé, mas no poder inerente do doador da fé, ou seja, o nosso Deus. Sem essa fé
não venceremos, mas com Ele somos mais do que vencedores.
Provérbios 6:2 – “E te deixaste enredar pelas próprias palavras; e
te prendeste nas palavras da tua boca”.
Este texto, dizem, significa que o poder de não passar por
problemas está na língua. No entanto, Salomão está falando da pessoa que ficou
por fiador de outro, como expressa o versículo anterior: “Filho meu, se ficasse por fiador do
teu companheiro, se deste a tua mão ao estranho, e te deixaste enredar pelas
próprias palavras; e te prendeste nas palavras da tua boca”. (grifo nosso)
A Bíblia de Genebra explica o termo “enredado”: “Pedir dinheiro
emprestado é uma coisa, mas prover segurança para outrem é caminhar para dentro
de uma armadilha feita pelo próprio indivíduo”. (7)
Provérbios 18:21 – “A morte e a vida estão no poder da língua; o
que bem a utiliza come do seu fruto”.
Este versículo explica que devemos ter o cuidado de que nossas
palavras não venham a nos trazer situações embaraçosas. Temos que saber como
dizer as coisas, pois certamente colheremos situações que são causadas por nós
mesmos. No entanto, este verso não dá margem para dizer que são as palavras em
si que nos dá o controle das circunstâncias da nossa vida. São situações
específicas e não o destino do ser humano que é traçado pela verbalização dos
nossos desejos interiores.
Para uma compreensão melhor do que eu quero dizer, deixe-me
mostrar-lhes algumas implicações práticas sobre a Confissão Positiva. Se você
crer nesta doutrina, então terá que desconsiderar aquilo que eu irei falar a
seguir. Mas se você quer ponderar o assunto, leia com atenção as frases
seguintes.
IMPLICAÇÕES PRÁTICAS DE SE CRÊ NA DOUTRINA DA CONFISSÃO POSITIVA
Citaremos algumas implicações preocupantes que comprovam a
periculosidade desta doutrina para os cristãos menos desavisados:
1 – A Doutrina da
confissão positiva aniquila a Soberania de Deus.
Deus não depende das palavras dos homens para agir. Deus é e
sempre será Soberano. Soberania é o atri buto pelo qual Deus possui completa
autoridade sobre todas as coisas criadas, determinando-lhe o fim que desejar
(Gn 14:19; Ne 9:6; Ex 18:11; Dt 10:14-17; I Cr 29:11; II Cr 20:6; Jr 27:5; At
17:24-26; Jd 4; Sl 22:28; 47:2,3,8; 50:10-12; 95:3-5; 135:5; 145:11-13;
Ap.19:6).
Já imaginou um Deus que depende do homem para agir? Com certeza
Ele entraria em enrascada se estivesse sujeito às oscilações da vontade humana.
Eu mesmo não queria um Deus desse tipo. Prefiro o Deus da Bíblia que “tudo faz
como lhe apraz”. (Sl 115:3).
2 – A Doutrina da
confissão positiva enaltece o homem.
Quando entendemos biblicamente quem na realidade é o homem,
ficamos sobremaneira conscientes de nossas falhas e limitações. Quanto mais a
confissão Positiva enaltece o homem, mais eu vejo o seu erro. A Bíblia nos
mostra claramente que o homem nada é comparado ao Senhor nosso Deus.
A Bíblia retrata como na verdade é o homem (Ezequiel 16:4-5; Is
1:6 Rm 3:10-18; Sal 51:5; 58:3; Is 48:8; João 5:40; Rm 1:28; 3:11, 18; II Pedro
3:5; Rm 8:8; Jr 13:23; João 6:44-45; Rm 8:6-8; Ef 4:18; Rm 1:21; Jr 17:9).
3 – A Doutrina da confissão positiva dá mais valor a palavra
falada do que às Escrituras.
Onde fica a luta de reformadores como Lutero? Muitos foram aqueles
que lutaram para que hoje tivéssemos a Palavra de Deus em nossas mãos. Muito
sangue foi derramado para que pudéssemos ler às Escrituras sem a interferência
da vontade humana. Onde fica o princípio da “Sola Scriptura”? A Bíblia deixou
de ser relevante para as nossas vidas? Creio firmemente que não e os textos
bíblicos confirmam isso - Sl 19:7-11; Sl 119; Jo 5:39; Rm 15:4; II Tm 3:16-17.
Amado irmão, se precisássemos apenas falar e declarar para que as
circunstâncias adversas fossem resolvidas e vivêssemos rica e abundantemente
sem problemas, então porquê a Bíblia dá tanta ênfase a suportar o sofrimento?
Se Paulo tivesse o poder de parar de sofrer decretando, então como foi que ele
teve que ficar com o espinho na carne? Deixemos de incoerência e vivamos a
verdade da Palavra do Senhor!
“Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas
necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando
estou fraco então sou forte”. II Co 12:10.
4 – A Doutrina da confissão positiva dá um conceito simplista da
fé cristã.
O evangelho de Cristo é o evangelho da cruz, da renúncia, do
arrependimento, do nascer de novo. O cristianismo de hoje é um cristianismo sem
cruz, sem sacrifícios. Gosto de dizer que é o “evangelho boa vida”, evangelho
“não-faça-nada-e-ganhe-tudo”. Esse não é o evangelho de Cristo. Basta vermos
alguns textos para comprovar o que estou dizendo – Jo 3; Mt 16:24; Mc 8:34; Lc
9:23; Gl 6:12; Mt 3:8; Lc 5:32; II Pd 3:9, etc.
5 – A Doutrina da confissão positiva não tem o respaldo na
História da Igreja.
Fico imaginando Lutero ou Calvino orando da seguinte maneira: “Eu
decreto que a partir de hoje o papado vai morrer, reivindico que todos os
inimigos do evangelho sejam transportados para o inferno. Declaro
explicitamente que não mais haverá mais heresias e que os inimigos da cruz de
Cristo vão desaparecer da face da terra. Está decretado em nome de Jesus!”
Essa oração nunca aconteceu. Dentro da História da Igreja não se
tem notícia de coisas absurdas como essa. Será que todos os grandes homens de
Deus estavam enganados a respeito de sua fé? Quando examinamos biografias
diversas dos homens de Deus, seja de quem for, notamos uma única nota coerente
em todos: Verdadeira humildade. Todos foram humildes em afirmar a soberania de
Deus e a fraqueza do homem. Agora, o homem quer mandar em Deus? Meus amados
somos servos e não senhores. E basta para nós sermos apenas servos.
Conclusão: Estude a Palavra e não
fique por ai repetindo, como papagaio, aquilo que você escuta na televisão. É
muito fácil pregar heresias. É muito prático dizer um “abracadabra” evangélico
para que tudo se resolva. Difícil é estudar com afinco às Escrituras, passar
horas debruçado sobre as páginas santas desse livro. Buscar de Deus o
verdadeiro sentido da vida, entender às verdades centrais desse livro, no
entanto, é salutar.
Como a Igreja do Senhor está precisando de bereanos hoje em dia.
Você quer ser um deles? Tomara que sim! Deus o abençoe.
(Pr Antônio Pereira da Costa Júnior- pastor congregacional)
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