O que é Teologia Reformada? Parte Dois

Quais são as fontes da Teologia Reformada? E como ela as trata?

•         Bíblia, Tradição, Razão e Experiência

                        Por sua origem estar ligada a Reforma: a Bíblia (escrituras sagradas do Antigo e Novo Testamentos) é a fonte central da qual as demais se subordinam.

                        A Tradição fala dos escritos de Calvino, dos puritanos dos séculos XVI e XVII, e as Confissões Reformadas dos séculos XVI e XVII que ainda são adotadas até hoje: Confissão Belga, Catecismo de Heildelberg, Cânones de Dort,  Segunda Confissão Helvética, Confissão de Fé de Westminster, Catecismo Maior de Westminster, Breve Catecismo de Westminster, entretanto todos estes estão subordinados às Escrituras assim como a razão e a experiência.

Quais são os ensinos distintivos da Teologia Reformada?

Calvino sempre começava o culto em Genebra com a recitação deste versículo: O nosso socorro está no nome do Senhor que fez os céus e a terra. Salmo 124: 8.

                        Assim, a Teologia Reformada tem como centro a soberania de Deus no cuidado com seu povo e toda a criação, um Deus que cuida, dirige e preserva todas as coisas. Portanto, como resultado deste princípio temos assim cinco conceitos para o desenvolvimento de uma espiritualidade (vida com Deus) baseada na Teologia Reformada, segundo Michael Horton:

1- União com Cristo (1 Co 12:12)

Nenhuma teoria de crescimento ou desenvolvimento cristão pode obscurecer ou ignorar esse fato central. Na espiritualidade reformada, o objetivo e o subjetivo, o exterior e o interior, estão ligados inseparavelmente por essa realidade. “Em Cristo” somos justificados e estamos sendo santificados.

2- Justificação pela graça mediante a Fé (Rm 5:1-5)

“Declarado justo” : essa expressão jurídica é o cerne das Boas Novas. Se buscarmos obter o favor divino por meio da nossa vontade ou do nosso correr , terminaremos rapidamente com a justiça própria ou o desespero. O progresso na obediência vem somente à medida que reconhecemos Cristo com sendo nossa justiça, santidade, redenção.

3-Santificação
(Hb 12:14)

Em nossa salvação, não contribuímos com nada, exceto o nosso pecado. Mas uma vez nascidos de novo pela graça de Deus (à parte da nossa cooperação), estamos livres para cooperar com o Espírito Santo pela primeira vez. A santificação, portanto difere do novo nascimento, da justificação, etc., requer nossa energia e participação. Crescemos na graça e no conhecimento de Cristo, ativamente animados pelo evangelho. Tanto a justificação como a santificação são dons de Deus, em virtude da nossa união com Cristo.

4-Chamado/vocação
(Rm 12:1-2)

Essa doutrina enfatiza o fato que tudo o que fazemos honra a Deus se o fizermos em fé.  Exemplo: Um lixeiro não é menos espiritual que um missionário. Deus criou  cada um de nós com certos dons e nós devemos encontrar significado e realização não somente nas coisas relacionadas à igreja, mas em nosso trabalho e lazer também. Logo, no pensamento reformado não há espaço para: a) monasticismo: criar comunidades isoladas de tudo e de todos para melhor servirmos a Deus, devemos ser luz do mundo e sal da terra; b) e uma divisão rígida entre o que é material do que é espiritual: trabalhar é fazer a obra de Deus, ter momentos de lazer com a família e amigos também é testemunhar Cristo Jesus.

           

5-Sacramentos
(Gl 3: 27 e Jo 6: 53-58)

O Batismo e Ceia do Senhor são “meios de graça” ou também chamados de meios de santificação por Berkhof. Batismo é o começo da nossa nova vida em Cristo, e na Ceia nos alimentamos de Cristo – o Pão da Vida – ao longo de nossa jornada até a Nova Jerusalém.

Conclusão

Ainda há mais características únicas na Teologia Reformada, entretanto, isto demandaria mais tempo, e estudos específicos acerca de cada ensino. Por isso, esta palestra se deteve na espiritualidade.

                        Podemos ainda afirmar que a Teologia Reformada não se resume a predestinação, mesmo porque nas confissões reformadas não existe um capítulo intitulado com esta doutrina, antes, está inserida nos decretos de Deus, que incluem a criação e a providência de Deus, e muitos menos esta teologia  tem como distintivo os 5 pontos calvinistas (que nem o próprio Calvino confeccionou, pois morreu em 1564), mas os discípulos holandeses entre os anos de 1618 e 1619 no sínodo de Dort.

                        Portanto, a Teologia Reformada é rica quanto a visão de se glorificar a Deus em tudo.   

Calvino disse:

A soma total da nossa sabedoria, a quem merece o nome de sabedoria verdadeira e certa, abrange estas duas partes: o conhecimento que se pode ter de Deus, e o de nós mesmos (Institutas Livro I, Capítulo 1)

                        Enfim, é como está na Palavra em 2 Pe 3: 18 que terminamos: Antes, crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A Ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém.

Referências

BERKHOF, Louis Teologia Sistemática, Campinas (SP): LPC, 1999.

BIÉLER, André O Pensamento Econômico e Social de Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2000.

HORTON, Michael Principais Conceitos na Espiritualidade Reformada, in Revista Modern Reformation, Volume 5, Número 6, Nov/ Dez 1996. Veja o site www.monergismo.com. Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – junho/2011.

OLSON, Roger História das Controvérsias na Teologia Cristã, São Paulo: Vida, 2004.

REID, W. Stanford (org.) Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental, São Paulo: Cultura Cristã, 2000.